Paris - Após cinco anos à frente da França, Nicolas Sarkozy voltou a ser nesta terça-feira (15/5) um homem comum, livre para retomar sua carreira como advogado, mas também à disposição dos juízes que podem convocá-lo já no verão para esclarecer o financiamento de sua campanha em 2007.
Sarkozy apertou a mão de seu sucessor François Hollande, que acompanhou seus passos no corredor do Eliseu. De mãos dadas com sua esposa Carla Bruni, o ex-presidente conservador cumprimentou pela última vez a sua equipe reunida no local. Seu carro se afastou com os gritos de seus partidários: "Nicolas obrigado".
François Hollande deu os seus "melhores votos para a nova vida que se abre diante dele". Mas Nicolas Sarkozy continua vago sobre suas intenções.
Em caso de derrota, "você nunca mais ouvirá falar de mim", havia dito durante a campanha. Mas, na noite da derrota, pressionado por sua comitiva para "não insultar o futuro", optou por uma resposta ambígua, referindo-se a "compromissos diferentes".
Em seguida, dedicou-se em organizar uma transição "pacífica", algo elogiado até pela esquerda.
Aos 57 anos, "trinta e cinco de cargos políticos", de prefeito do subúrbio parisiense de Neuilly-sur-Seine até o Palácio do Eliseu, será que realmente vai abandonar a política? "Nem em sonhos", disse a um de seus ministros. Seu último chefe da diplomacia, Alain Juppé, aconselhou nesta terça-feira "dar um passo atrás", "depois nós veremos".
Enquanto não ocupar funções de liderança dentro de um partido político, deve sentar-se no Conselho Constitucional, onde uma cadeira é reservada a todo ex-chefe de Estado.
Ele deve também retomar sua carreira como advogado corporativo: manteve as ações da empresa que co-fundou com seu amigo Arnaud Claude há 25 anos.
Antes disso, vai "descansar com a família", provavelmente em Cap Négre (sul da França), na propriedade de sua esposa Carla Bruni-Sarkozy.
Será talvez na ensolarada Côte d;Azur que Nicolas Sarkozy, protegido por cinco anos por sua imunidade presidencial, será agarrado pela justiça.
Legalmente, a imunidade penal do chefe de Estado é retirada um mês após sua saída do poder. Teoricamente, poderá ser convocado já em 16 de junho pelos juízes para depor sobre dois casos: o Caso Bettencourt, que levantou questões sobre o financiamento de sua campanha em 2007, e o aspecto financeiro do caso Karachi, originalmente uma investigação de um atentado em 2002.
No primeiro, o ex-presidente foi diretamente envolvido por testemunhas, que dizem que ele ganhou pelo menos 50.000 euros em dinheiro do homem de confiança de Liliane Bettencourt, herdeira da gigante dos cosméticos L;Oreal e um generoso apoio de seu partido, o UMP.
Na França, onde o financiamento dos partidos políticos é altamente regulado, doações de indivíduos são limitadas a 4.600 euros para uma campanha eleitoral.
Este caso, originalmente uma disputa familiar, resultou na demissão de um ministro, no final de 2010, e na acusação, em 2011, de oficiais superiores da polícia, suspeitos de realizarem escutas telefônicas ilegais.
Nicolas Sarkozy sempre negou ter recebido qualquer dinheiro. Recentemente caracterizou como "infâmia" as acusações relatadas pela imprensa sobre o financiamento de sua campanha pelo ex-ditador da Líbia Muamar Kadafi.
Os juízes podem também querer ouvi-lo no caso de Karachi, onde não está diretamente envolvido, mas que pode comprometer o seu mentor, o ex-primeiro-ministro Edouard Balladur.
Para o cientista político Philippe Braud, "se ele for processado e condenado, praticamente eliminará todas as chances de um retorno à política". E também irá fechar as portas do Conselho Constitucional, onde Jacques Chirac, condenado no final de 2011 por empregos fictícios, deixou seu lugar após ser indiciado.