Agência France-Presse
postado em 16/05/2012 14:24
Bogotá - O atentado que deixou dois mortos em Bogotá na terça-feira (15/5) representa um duro golpe nos esforços da Colômbia para mudar sua imagem de país perigoso que durante anos a perseguiu, afirmaram especialistas.A explosão em uma região muito movimentada de Bogotá, que tinha como alvo Fernando Londoño, ex-ministro do Interior no governo de Álvaro Uribe (2002-2010), provocou de imediato o retorno do pesadelo da insegurança que nos últimos anos havia ficado relegado às zonas rurais mais afastadas da Colômbia, país com um conflito armado interno de quase meio século.
"Houve um ressurgimento da violência, que até agora havia afetado as zonas afastadas das principais cidades. O retorno do terrorismo urbano era apenas uma questão de tempo", disse à AFP Alfredo Rangel, diretor da Fundação Segurança e Democracia.
Embora o atentado não tenha sido reivindicado e as autoridades mostrem-se prudentes ao apontar responsabilidades, este ataque ocorre em um contexto no qual as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, comunistas), embora menores em relação aos anos 80 e 90, aumentaram suas ações, principalmente com o uso de explosivos.
Durante o primeiro trimestre de 2012, os atentados contra a infraestrutura aumentaram 57% em relação ao ano anterior e o fechamento de estradas por parte das guerrilhas aumentaram 400%, segundo a Fundação Segurança e Democracia.
"O fato de este atentado ter sido praticado em Bogotá é uma notícia internacional que pode afetar de forma muito negativa a percepção da segurança do país no exterior", ressaltou o especialista, ao afirmar que "é um retrocesso a uma época que acreditávamos que já estivesse superada".
O governo destaca que a Colômbia registra atualmente a menor taxa de mortes violentas dos últimos 27 anos, com 31 homicídios por cada 100 mil habitantes para 2011.
A política denominada "segurança democrática", de combate frontal às guerrilhas, desenvolvida a partir de 2002 pelo ex-presidente Uribe, de quem Santos foi ministro da Defesa, conseguiu reduzir à metade o número de guerrilheiros das Farc, que atualmente somam cerca de 9.200, e empurrá-los às zonas mais inóspitas.
A Colômbia também conseguiu conter os sangrentos atentados cometidos nos anos 80 e 90 pelos narcotraficantes, em particular pelo cartel de Medellín, de Pablo Escobar.
E entre 2003 e 2006 o governo de Uribe avançou com um processo de desmobilização com as Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC, paramilitares de extrema direita), que cometeram milhares de crimes atrozes contra a população civil.
Estas mudanças foram recompensadas há apenas um mês, durante a VI Cúpula das Américas celebrada em Cartagena (norte), quando Barack Obama foi o primeiro presidente dos Estados Unidos a pernoitar na Colômbia, ficando por duas noites.
"Há tempos a Colômbia pressiona os diplomatas ocidentais para que mudem o perfil do país nas recomendações de viagem as suas chancelarias", comentou um diplomata europeu."É como se houvesse duas Colômbias. Em Bogotá, alguns vivem a ilusão de que já não há um conflito", disse.
De qualquer forma, o lema oficial do governo que diz "Colômbia: o risco é que você queira ficar" já tinha sido atingido no início do ano, quando dois atentados da guerrilha contra delegacias de polícia no sul causaram 15 mortes.
Mais recentemente, e em outro golpe às tentativas de promover uma imagem de segurança do país, as Farc capturaram o jornalista francês Romeo Langlois quando a patrulha militar com a qual se deslocava para realizar uma reportagem no departamento de Caquetá (sul) foi atacada por guerrilheiros no dia 28 de abril.
"O caso de Langlois deu uma imagem péssima. Foi um golpe duro à ideia de que as autoridades retomaram o controle", comentou o cientista político Rubén Sánchez, professor na Universidade de Rosario.
Mas este analista colocou em xeque que as Farc sejam responsáveis pelo atentado contra o ex-ministro. "Pode ser um ajuste de contas dos paramilitares", que criticam o governo de Uribe por tê-los extraditado depois de sua desmobilização.
No entanto, para além de que tenham sido ou não as Farc, o atentado não deve afetar a já anunciada entrega de Langlois. "A guerrilha está acostumada a fazer gestos humanitários" depois de ofensivas, disse Rangel.