Agência France-Presse
postado em 17/05/2012 17:57
Damasco - O Conselho Nacional Sírio (CNS), principal núcleo opositor, mostrou nesta quinta-feira (17/5) sinais evidentes de divisão, a ponto de o líder Burhan Ghalioun dizer que estava pronto para renunciar quando um novo dirigente for eleito, depois das fortes críticas a sua reeleição.Divisões surgiram dentro do Conselho Nacional Sírio (CNS), principal coalizão da oposição, com seu líder Burhan Ghalioun se dizendo nesta quinta-feira (17/5) preparado para deixar o cargo caso um sucessor seja nomeado, após as críticas ligadas a sua reeleição.
No terreno, o Exército sírio concentrou seus bombardeios na cidade de Rastan (centro), um importante reduto das forças rebeldes, chamadas na véspera pelo presidente Bashar al-Assad de "bando de criminosos".
Cinco membros de uma mesma família, incluindo duas crianças, morreram quando um obus de morteiro atingiu sua casa em Douma, perto de Damasco, segundo militantes citados pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Reeleito na terça-feira (15/5) na liderança do CNS, Ghalioun assegurou nesta quinta-feira (17/5) que não aceita "ser o candidato da divisão". "Anuncio que renunciarei depois que um novo candidato for escolhido, seja por consenso ou por novas eleições".
Algumas horas antes, os Comitês Locais de Coordenação (LCC), que organizam o movimento de contestação no terreno, haviam ameaçado se retirar do CNS, denunciando um "monopólio" do poder dentro dessa instância.
Os críticos do CNS se queixam principalmente da grande influência da Irmandade Muçulmana dentro do conselho e de sua falta de coordenação com os militantes no terreno.
Defensor de uma esquerda nacionalista árabe, nutrida pela Irmandade, Ghalioun emergiu como a personalidade capaz de unir múltiplas tendências (islamitas, nacionalistas, liberais). Mesmo contestado, ele foi reeleito em diversas oportunidades devido à falta de consenso em favor de um outro opositor, apesar de o regulamento do CNS estipular uma presidência rotativa a cada três meses.
Frente a esta oposição dividida, o governo se mantém firme apesar de mais de 14 meses de revolta, com um forte apoio da Rússia, cujo primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, alertou os ocidentais para intervenções militares "precipitadas" que podem levar extremistas ao poder, causar conflitos regionais e até uma guerra nuclear.
No centro do país, as forças governamentais bombardearam violentamente Rastan na manhã desta quinta-feira, ao ritmo de "três obuses por minuto", segundo o OSDH, que acusou o regime de tentar "destruir gradualmente" esse bastião rebelde.
Cercada pelo Exército, Rastan escapa há vários meses do controle das tropas do governo que tentaram em diversas oportunidades retomá-la. Em 14 de maio, 23 soldados foram mortos em uma tentativa de ataque. Segundo militantes, ela abriga um grande número de lideranças rebeldes, que defendem a região com vigor.
No sul do país, as tropas do governo foram mobilizadas em Deraa para tentar "por fim à greve geral", e fortes tiroteios foram ouvidos, segundo o OSDH. Em Aleppo (norte), milhares de estudantes protestaram para exigir a queda do regime durante a visita de uma delegação de observadores da ONU encarregados de supervisionar a aplicação de um cessar-fogo amplamente ignorado há um mês, segundo militantes.
Vídeos divulgados pelos militantes mostram um grande número de estudantes insultando Assad e cercando um veículo com a inscrição ONU aos gritos de "O povo quer a queda do regime". "Milhares de estudantes deixaram suas salas de aula quando os observadores da ONU chegaram e gritaram palavras de ordem hostis ao regime", pedindo armas para a rebelião, relatou um porta-voz dos militantes locais, Mohammed Halabi, contatado por telefone.
Na quarta-feira (16/5), Assad afirmou a uma rede de televisão russa que as eleições legislativas de 7 de maio, boicotadas pela oposição, tinham mostrado que os sírios apoiam seu regime contra os "terroristas". Ele também acusou a oposição de receber "armas e dinheiro" de outros países.
O primeiro-ministro do Qatar, xeque Hamad ben Khassem al-Thani, que se disse favorável ao fornecimento de armas, pediu nesta quinta-feira que a Síria ponha fim ao "banho de sangue".
Em, 14 meses, mais de 12.000 pessoas foram mortas na Síria, em sua maioria civis, segundo o OSDH. Dezenas de milhares de sírios se refugiaram em países vizinhos.
A violência afeta o Líbano onde confrontos entre libaneses pró e anti-Assad são registrados quase que diariamente desde sábado na maior cidade do norte, Trípoli, deixando no total 10 mortos.
Nesta quinta-feira (17/5), uma pessoa foi morta e sete outras ficaram feridas em combates entre moradores do bairro de Bab al-Tebbaneh, majoritariamente sunita e hostil ao regime sírio, e o bairro vizinho de Jabal Mohsen, de maioria alauita pró-regime, segundo uma autoridade dos serviços de segurança à AFP.