Agência France-Presse
postado em 18/05/2012 14:29
Cairo - A Irmandade Muçulmana, maior força política do Egito, colocou em funcionamento sua poderosa engrenagem para a eleição presidencial, embora esta batalha vá ser mais dura do que a das legislativas, vencidas com folga pelo grupo.Nos meses anteriores à eleição, cujo primeiro turno será realizado na próxima quarta e quinta-feira, os islamitas sofreram revezes e protagonizaram várias guinadas, que mancharam sua imagem para muitos egípcios.
A situação se complica ainda mais com as divisões entre os islamitas, com a candidatura de um dissidente da Irmandade Muçulmana, Abdel Moneim Abul Futuh.
O candidato da Irmandade Muçulmana, Mohammed Morsi, um engenheiro de 60 anos, ganhou o apelido de "estepe" entre seus críticos, por ter substituído de improviso o candidato inicial do partido, Jairat al Shater, afastado da eleição por uma velha condenação.
Com isso, a Irmandade Muçulmana "criou por si só as condições para ficar em dificuldades", segundo Michael Wahid Hanna, do centro americano de estudos The Century Foundation.
Inicialmente, os islamitas prometeram inclusive não apresentar um candidato à presidência. Sua mudança de opinião contrariou muitos deles. A tentativa de dominar a futura comissão encarregada de redigir a Constituição, criticada pela Igreja Copta e pela influente instituição sunita Al-Azhar, também teve um efeito ruim sobre a opinião pública.
E seu jogo alternativo de conivência e de enfrentamento com os militares que dirigem o país desde a queda do presidente Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011, também não fez bem à imagem do partido islamita.
Sua incapacidade de influenciar na composição ao governo de transição, nomeado pelo Exército, demonstrou a fraqueza do Parlamento no qual são majoritários.
"Muita gente tem a impressão de que a Irmandade não é capaz de conseguir muita coisa, que é figurante e que, no fim das contas, aumenta a confusão", segundo Hanna.
Enquanto isso, a Irmandade Muçulmana intensificou as manifestações massivas para provar que continua sendo a maior força política do país.Seu principal trunfo é sua rede disciplinada de centenas de milhares de militantes, envolvidos há décadas na vida local e na ação beneficente.
O lema é "a defesa da revolução", colocada em perigo, segundo eles, pelas candidaturas à presidência de figuras procedentes do regime de Mubarak, como seu último primeiro-ministro, Ahmed Shafiq, ou seu ex-chanceler Amr Moussa.
"Nosso candidato tem muitas chances", assegurou na televisão um deputado da Irmandade Muçulmana, Mohammed Diab. "Os jovens vão a todas as casas, se dirigem a todos, cristãos e muçulmanos, para convencer sobre as vantagens de nosso programa e de nossa capacidade de cumpri-lo", disse.
A Irmandade também pede um voto coerente, que coloque na presidência uma pessoa do mesmo signo político da maioria parlamentar. "Está claro que o Executivo e o Legislativo devem cooperar", destaca um membro do escritório executivo do partido islamita, Mahmud Ghozlan.
Embora Morsi se apresente como o único candidato com um programa islamita, a candidatura de Abul Futuh, ex-dirigente da Irmandade excluído no ano passado, faz uma forte concorrência, já que pode levar muitos votos da Irmandade Muçulmana, dos salafistas e inclusive dos jovens laicos e educados que lideraram a rebelião contra Mubarak.
"Abul Futuh tem um programa de referências islamitas, mas pode ser o presidente de todos os egípcios. Tem o apoio de islamitas, mas também de liberais", destaca Mohammed Nur, dirigente do principal partido salafista Al Nur, que o apoia.