México - Os universitários mexicanos invadiram de surpresa uma campanha eleitoral sem brilho, que parece decidida de antemão, para denunciar o que consideram uma aliança entre os principais meios de comunicação e o candidato presidencial do PRI, Enrique Peña Nieto, favorito nas pesquisas.
Um pequeno protesto de estudantes em uma universidade particular contra Peña Nieto se transformou em um movimento que conseguiu reunir na quarta-feira mais de 10 mil pessoas na capital mexicana e em outras cidades do país e que ameaça seguir crescendo.
"Os meios de comunicação manipularam muito a campanha eleitoral, particularmente a favor de um candidato, Peña Nieto. Não é democrático nem justo e estamos fartos", disse à AFP Tania Gómez, da Universidade Autônoma da Cidade do México.
As pesquisas antecipam o retorno ao poder na eleição de 1; de julho do Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o México de 1929 a 2000. Peña Nieto tem uma vantagem de mais de 15 pontos sobre seus rivais mais próximos.
No dia 11 de maio, um grupo de estudantes da Universidade Iberoamericana vaiou Peña Nieto pela brutal repressão policial de seis anos atrás contra um protesto social no município de Atenco, no populoso estado do México (centro), do qual ele era governador.
A resposta inicial do PRI, destaca Luis Daniel Vázquez, cientista político da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) no México, foi que os insatisfeitos não eram estudantes, mas perturbadores da ordem. Isto foi um erro, porque impulsionou os estudantes, disse Vázquez.
Além disso, acrescentou "foi observada esta capacidade (do PRI) de controlar os meios de comunicação" e "pela forma como estes permitiram ser utilizados para esse controle de danos é que rapidamente se converteu em um protesto contra os meios de comunicação".
Um grupo de 131 alunos da Iberoamericana divulgou na internet um vídeo dando seu nome e número de matrícula universitária para demonstrar que eram estudantes.
Este gesto foi seguido por muitos outros estudantes desta e de outras universidades do país, particulares e públicas, e gerou na rede social Twitter um movimento denominado "Yo soy 132" (Eu sou 132, em tradução livre).
Ele foi crescendo como uma bola de neve com uma sucessão de concentrações diante da rede de televisão Televisa e do jornal Milenio, que, no início, reuniram centenas de estudantes.
No fim de semana e na quarta-feira, duas manifestações convocadas por meio da internet conseguiram reunir milhares de estudantes, que criticaram principalmente Peña Nieto e a Televisa.
Estes protestos lembraram não apenas Atenco, mas a matança na Praça de Tlatelolco no dia 2 de outubro de 1969, na qual o exército matou 44 manifestantes.
O ex-governador do estado do México, que se apresenta como renovador e tenta se desvincular da imagem de um PRI autoritário e corrupto que boa parte dos mexicanos ainda lembra, mudou o discurso e assegurou em um programa da Televisa que estas manifestações "comprovam a vitalidade da democracia" mexicana.
No entanto, indicou Vázquez, já é tarde, e os estudantes preparam novos protestos e buscam uma maneira de canalizar o descontentamento.
"Há um certo faro nos jovens (...) de que, se o PRI retornar ao poder, há uma forte probabilidade de que tenhamos um retrocesso democrático, uma tentativa de restabelecer o regime autoritário", assegurou o pesquisador de Flacso.
A Universidade Iberoamericana informou na quarta-feira que alguns alunos que apareciam no vídeo "receberam telefonemas intimidadores ou mensagens ameaçadoras pelas redes sociais".
"Já há uma saturação entre os estudantes de ver esta dicotomia de vida nos meios de comunicação e na realidade. Acredito que este movimento vai crescer", adverte Leo Girón, estudante da Universidade do Vale do México.