Agência France-Presse
postado em 30/05/2012 16:02
Damaco - A oposição síria acusou nesta quarta-feira (30/5) a Rússia de incentivar o regime de Bashar al-Assad a cometer "crimes selvagens". A declaração veio em resposta às críticas de Moscou contra as sanções diplomáticas dos países ocidentais para protestar contra o aumento da violência na Síria.A repressão e os combates entre exército e rebeldes continuam e já deixaram 39 mortos no país, no dia seguinte a conflitos particularmente agressivos, com 98 mortos, 13 deles executados, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
Na abertura da reunião a portas fechadas do Conselho de Segurança da ONU na Síria, o embaixador alemão Peter Wittig pediu que o massacre de Houla "abra os olhos" dos aliados, como a Rússia e a China, sobre o regime de Bashar al-Assad, que reprime uma revolta popular desde março de 2011.
Em represália ao episódio em Houla, no centro do país, em que 108 pessoas morreram, entre elas 50 crianças durante a sexta-feira e o sábado, Japão e Turquia seguiram os passos de vários países ocidentais e expulsaram diplomatas sírios de suas capitais.
As autoridades sírias responderam à medida, ordenando a saída da embaixadora holandesa, uma das últimas representantes ocidentais que restavam em Damasco.
A Rússia lamentou a medida "contraprodutiva" tomada pelos ocidentais e afirmou que "os canais importantes de influência sobre o governo sírio (...) estão agora fechados".
O Conselho Nacional Sírio (CNS), principal grupo opositor, criticou a estratégia de Moscou, que considera uma forma de "incitar" o regime "a cometer crimes selvagens" e pediu uma resolução da ONU autorizando o uso de força.
"Um acordo internacional para a saída de Assad é o único meio de salvar o plano de (Kofi) Annan (o mediador internacional) e de encontrar uma solução política. Caso contrário, a situação poderá ameaçar toda a região", disse o CNS.
Moscou foi muito criticada nos últimos meses por ter impedido a adoção de medidas para condenar Damasco no Conselho de Segurança da ONU.
O presidente francês, François Hollande, que na sexta-feira recebe o russo Vladimir Putin, disse que seu objetivo é gerar uma mudança na posição russa.
Um dia depois de sua visita à Síria, o emissário das Nações Unidas e da Liga Árabe, Kofi Annan, que propõe um plano de paz por ora ignorado, afirmou que "é necessária uma intensificação dos esforços internacionais para (...) por fim à violência".
Para aumentar "a pressão econômica sobre o regime", os Estados Unidos anunciaram que atuariam conjuntamente com o Catar para impedir que um banco sírio, o Syria International Islamic Bank, tenha acesso ao sistema financeiro dos dois países para cortar "uma via de evasão financeira de primeira ordem".
Vários países, incluindo a França, levantaram novamente o debate sobre uma intervenção militar sob a coordenação da ONU, o que exige a aprovação de Pequim e de Moscou.
Em sua reunião desta quarta-feira, o Conselho de Segurança previu uma discussão sobre um aumento do número de observadores da ONU no país (são em torno de 300 atualmente) para tentar impor a trégua declarada em 12 de abril, dentro do plano de Annan, mas que está sendo violado diariamente.
Neste cenário, o chefe dos observadores da missão da ONU na Síria, o major Robert Mood, afirmou que se sente "profundamente perturbado" depois da descoberta na terça-feira dos corpos de 13 pessoas na província de Deir-Ezzor.
Na mesma província, um oleoduto foi sabotado por "um grupo terrorista" e obrigou a deter a extração de petróleo, de acordo com a agência oficial Sana.
Na sexta, o Conselho de Direitos Humanos da ONU terá uma sessão especial sobre a situação na Síria, onde os enfrentamentos já deixaram mais de 13 mil mortos em mais de 14 meses, em sua maioria civis, segundo o OSDH.