Agência France-Presse
postado em 01/06/2012 10:45
Berlim - A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente russo, Vladimir Putin, apresentaram um discurso unificado nesta sexta-feira em Berlim defendendo uma "solução política" na Síria, onde há sinais "precursores" de guerra civil, segundo o líder russo. Ao final de um encontro com Angela Merkel, Putin, que iniciou no dia 7 de maio um terceiro mandato como presidente após os de 2000 a 2008, afirmou que não se pode "fazer nada pela força" na Síria, onde o recente massacre de Houla suscitou a indignação internacional e causou a expulsão de representantes diplomáticos sírios nos países ocidentais.
[SAIBAMAIS]
"Ficamos de acordo (durante nosso encontro) sobre o fato de que devemos trabalhar com todas as nossas forças por uma solução política", ressaltou Merkel, afirmando que sua visão da situação no país árabe não é diferente. Ela manifestou a vontade comum de ambos de garantir a estabilidade da região, parecendo se distanciar da postura mais agressiva de Washington em relação à Rússia.
A chefe da diplomacia americana, Hillary Clinton, havia acusado diretamente os russos na quinta-feira ao considerar "que sua política vai contribuir para uma guerra civil". Apesar do suporte de Moscou ao governo do presidente Bashar al-Assad, Putin disse que seu país não apoia nenhuma das partes que se enfrentam na Síria e desmentiu que seu governo esteja fornecendo armas que são utilizadas em uma guerra civil. Ele disse, entretanto, que é possível identificar sinais "precursores" de guerra civil. "Isso é extremamente perigoso", ressaltou.
A Alemanha em diversas oportunidades rejeitou a ideia de uma intervenção militar na Síria, onde o regime do presidente Bashar al-Assad pratica massacres contra a população. Frente à "situação muito difícil da Síria", a chanceler assegurou que é preciso "fazer de tudo no Conselho de Segurança da ONU para que esse plano seja implementado e, eventualmente, ampliado". "Devemos fazer de tudo para impedir que ocorra uma guerra civil", que "não é do interesse de ninguém", insistiu ela. O presidente francês, François Hollande, que recebe Vladimir Putin à noite em Paris, havia mencionado pela primeira vez na terça-feira a hipótese de uma intervenção militar estrangeira na Síria, sob a condição de que fosse organizada pela ONU.
O dirigente russo, que faz a sua primeira viagem aos países ocidentais depois de seu retorno ao Kremlin, depois de ter passado por Belarus na quinta, foi recebido em Berlim com honras militares, como determina o protocolo para a visita de um chefe de Estado reeleito. Manifestantes reunidos diante dos portões tentaram perturbar a cerimônia agitando bandeiras sírias, vaiando e gritando. Em Paris, o presidente russo será recebido por François Hollande, com que jantará no Eliseu. A ONU alertou para o risco de uma "guerra civil catastrófica" na Síria após o massacre de Houla, que deixou 108 mortos.
A alta comissária da ONU para os direitos humanos, Navi Pillay, considerou nesta sexta-feira durante uma sessão especial do Conselho de Direitos Humanos sobre a Síria, que o massacre de Houla pode constituir "crimes contra a Humanidade e outros crimes internacionais". Esses atos "podem ser o sinal de um modelo de ataques sistemáticos ou generalizados contra as populações civis que foram praticados com toda a impunidade", disse Pillay. Organizações de defesa dos direitos humanos pediram o fim imediato do fornecimento de armes da Rússia à Síria.