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Ex-presidente Hosni Mubarak é condenado à prisão perpétua no Egito

Agência France-Presse
postado em 02/06/2012 08:54
População se reúne para acompanhar o julgamento do ex-presidente

Cairo - O ex-presidente egípcio Hosni Mubarak, de 84 anos, que liderou o país durante 30 anos e foi derrubado na "Primavera Árabe", foi condenado neste sábado (2/6) à prisão perpétua pela sangrenta repressão de manifestantes durante a revolta de 2011.

O ex-chefe de Estado, que compareceu em uma maca e com óculos escuros, apelará da decisão, anunciou seu advogado Yasser Bahr, que denunciou um veredicto "cheio de erros jurídicos".

Mubarak, que era mantido antes da sentença em prisão preventiva em um hospital militar, foi levado imediatamente à ala médica da prisão de Tora, na periferia do Cairo, para cumprir a pena.

Seu estado de saúde piorou quando chegou à prisão, segundo os meios de comunicação oficiais, que acrescentaram que o ex-líder precisou colocar uma máscara de oxigênio.

"Mubarak sofreu um agravamento surpreendente de sua saúde em sua chegada de helicóptero à prisão de Tora", indicaram a televisão e a agência oficial Mena, sem fornecer maiores detalhes.

O ex-presidente negou-se, em prantos, a deixar o helicóptero quando chegou à prisão, e um membro das forças de segurança precisou convencê-lo, indicou um funcionário dos serviços de segurança.

Primeiro líder derrubado pela "Primavera Árabe" a comparecer diante de um juiz, Mubarak declarou-se inocente no início do julgamento, que começou no dia 3 de agosto de 2011.

O ex-líder egípcio escapou da pena de morte, que havia sido pedida pela promotoria, e também foi absolvido em um dos casos de corrupção.

Seu ex-ministro do Interior, Habib el-Adli, também julgado pela morte de cerca de 850 pessoas durante a revolta popular de janeiro e fevereiro de 2011, recebeu a mesma sentença, enquanto seis funcionários de alto escalão dos serviços de segurança foram absolvidos.

A Irmandade Muçulmana, maior força política do Egito, convocou neste sábado manifestações para protestar contra as seis absolvições.

"Se os chefes da polícia são inocentes, então quem matou os manifestantes?", disse à AFP um membro do alto escalão da Irmandade Muçulmana, Mahmud Ghozlan, acrescentando que o grupo convocava manifestações em todo o Egito.

Já o ex-primeiro-ministro de Mubarak e candidato à Presidência egípcia, Ahmad Shafiq, afirmou que as decisões da justiça "devem ser aceitas", informou a agência Mena.

O caso envolve os "egípcios, seus sistema judicial e seu governo", comentou a secretária americana de Estado, Hillary Clinton, que se negou a avaliar a condenação de Mubarak.

O tribunal também não condenou os dois filhos de Mubarak, Alaa e Gamal, julgados ao mesmo tempo por corrupção, ao considerar que os crimes prescreveram, declarou o presidente do tribunal, o juiz Ahmed Rifaat.

Alaa e Gamal Mubarak, vestidos com a roupa branca dos prisioneiros, tinham um semblante sério e os olhos marcados pelas olheiras.

Os dois ficaram com os olhos marejados após a leitura do veredicto.

No entanto, ainda enfrentam outro julgamento, que deve ter início em breve, por um caso de corrupção relacionado com a Bolsa de Valores.

Após a sentença, foram registrados confrontos na sala do tribunal, nos arredores do Cairo.

"O povo quer que a justiça seja limpa", gritaram alguns advogados, furiosos após a absolvição de seis autoridades de segurança e o anúncio da prescrição dos crimes contra Alaa e Gamal Mubarak.

Alguns advogados dentro da sala disseram que temiam que Mubarak e Adli fossem declarados inocentes em segunda instância.

O juiz Rifaat disse ter tomado sua decisão com "a consciência tranquila".

Teve palavras muito duras para a situação do Egito durante os trinta anos de governo de Mubarak, ao fazer referência à pobreza da população.

Também homenageou os manifestantes que se revoltaram contra o regime no início do ano passado.

"Eles se dirigiam à Praça Tahrir pacíficos, só pediam justiça, liberdade, democracia", afirmou.

A audiência ocorreu em meio a fortes medidas de segurança.

Em frente ao tribunal, cerca de vinte familiares das vítimas, procedentes de Alexandria, exibiam retratos de seus "mártires".

O veredicto foi comunicado em meio ao processo para designar o sucessor do presidente deposto, em eleições pluralistas que contrastam com as votações decididas de antemão que permitiram ao ex-líder se manter no poder durante três décadas.

No segundo turno, nos dias 16 e 17 de junho, se enfrentarão Mohammed Mursi, da Irmandade Muçulmana, e o último primeiro-ministro de Mubarak, Ahmed Shafiq.

Ex-chefe da Força Aérea egípcia e depois vice-presidente de Anwar al-Sadat, Mubarak tomou as rédeas do país mais populoso do mundo árabe - 82 milhões de habitantes - após o assassinato de Sadat, em 1981.

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