Agência France-Presse
postado em 13/06/2012 17:21
Nova York - A presidente argentina, Cristina Kirchner, apresenta-se nesta quinta-feira (14/6) diante do Comitê de Descolonização da ONU para reivindicar a soberania de seu país sobre as Malvinas, em uma inédita visita apimentada pelo recente anúncio da Grã-Bretanha de um referendo entre os moradores da ilha.A reunião em Nova York coincide com o 30; aniversário do final da guerra de 1982 que terminou com a vitória britânica, e se espera que nessa ocasião Kirchner responda ao anúncio de terça-feira da realização de um referendo em 2013 para que os 3.000 habitantes das ilhas se pronunciem sobre seus status político.
A presidente argentina estará acompanhada de uma ampla delegação de líderes opositores, com o objetivo de deixar claro o consenso que existe sobre a reivindicação da soberania das Malvinas, ocupadas pelo Reino Unido desde 1833.
Kirchner será a primeira presidente a se apresentar diante do Comitê de Descolonização da ONU, formado por 24 países e presidido atualmente pelo equatoriano Diego Morejón Pazmiño, segundo fontes diplomáticas.[SAIBAMAIS]
Esse órgão especial das Nações Unidas pede regularmente desde 1965 às duas partes que iniciem negociações pela disputa do arquipélago no Atlântico Sul, apesar de a Grã-Bretanha sempre ter ignorado essas resoluções não vinculantes.
Em meio ao estremecimento de sua reclamação com o governo britânico, a Argentina conseguiu nos últimos meses o apoio dos países latino-americanos, incluindo a decisão de membros do Mercosul como Brasil, Uruguai e Chile (associado) de proibir a entrada em seus portos de navios com a bandeira das Malvinas.
Em fevereiro, o chanceler argentino, Héctor Timerman, denunciou diante da ONU uma "militarização" britânica do Atlântico Sul e a exploração de possíveis recursos petroleiros nessa região, acusações rejeitadas pelo governo do Reino Unido, para quem a questão da soberania foi resolvida em 1982.
Conscientes dos esforços mobilizados pela Argentina nessa ocasião, os habitantes da ilha foram a Nova York com uma delegação de oito pessoas, a maior desde 1996, que busca mostrar que as Malvinas querem ter sua voz nas discussões.
"O referendo é uma boa chance de mostrar que o povo das Falklands (denominação britânica das Malvinas) está genuinamente feliz com o status que tem neste momento", disse Rober Edwards, membro da Assembleia Legislativa das ilhas, em um encontro com a imprensa na missão britânica diante da ONU.
Edwards admitiu que o resultado do referendo não mudará a posição argentina, apesar de pretender que esse processo tenha um efeito externo: "Espero que o restante do mundo não continue apoiando a beligerância argentina", afirmou.
Os moradores da ilha, que reivindicam seu direito de autodeterminação, não são reconhecidos pelo governo argentino, que insiste em negociar diretamente com o Reino Unido.
Nesta quarta-feira, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse esperar que a população das Malvinas fale "forte e alto" no referendo de 2013 e que a Argentina "escute o veredicto das urnas".
"Os habitantes das Falklands decidiram realizar um referendo para mostrar que acreditam na autodeterminação, e creio que isso seja muito importante, porque a Argentina trata continuamente de ocultar este argumento e não se importa com as opiniões dos moradores", declarou Cameron no Parlamento em Londres.
A guerra das Malvinas, que durou 74 dias entre 2 de abril e 14 de junho de 1982, foi lançada pela ditadura militar no poder em Buenos Aires e deixou 649 argentinos e 255 britânicos mortos.
Menos de 2 milhões de pessoas vivem sob domínio colonial nos 16 territórios não autônomos que restam no mundo, entre eles Gibraltar, segundo a ONU.