Agência France-Presse
postado em 14/06/2012 15:04
Damasco - O mausoléu de Zeynab, um dos lugares mais sagrados para o Islã xiita, situado nos arredores de Damasco, foi atingido nesta quinta-feira (14/6) por um atentado suicida com carro-bomba que deixou 14 pessoas feridas, informaram testemunhas e a imprensa oficial síria.Segundo informações obtidas pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), o atentado teve como alvo um prédio das forças de segurança situado próximo ao mausoléu, dedicado a Sayida Zeynab, neto de Maomé, e frequentado anualmente por centenas de milhares de peregrinos, principalmente, iranianos e libaneses.
A agência oficial Sana indicou que a área da explosão sofreu "fortes danos" e confirmou que o autor do atentado morreu.
De acordo com uma testemunha, uma caminhonete entrou no estacionamento por volta das 03h00 GMT (00h00 de Brasília) e explodiu entre os veículos estacionados, incluindo ônibus de peregrinos. As janelas do mausoléu foram quebradas e seus minaretes também ficaram danificados. A explosão deixou uma cratera de três metros no solo.
O emissário internacional para a Síria, Kofi Annan, advertiu recentemente que a revolta de 15 meses no país pode causar uma guerra entre correntes religiosas.
A maioria dos 22 milhões de habitantes da Síria é muçulmana sunita, enquanto o presidente Bashar al-Assad pertence a uma minoria alauíta, oriunda do lado xiita do Islã.
[SAIBAMAIS] Hoje, outro carro-bomba explodiu na cidade de Ibleb, no noroeste da Síria e um número indeterminado de soldados morreram e ficaram feridos na explosão.
Na cidade de Deraa, no sul, palco de grandes protestos contra o governo, cinco civis foram mortos nesta quinta-feira, quatro deles em um bombardeio das tropas governamentais.
Na região de Homs, no centro, que também é cenário de terríveis combates, seis pessoas perderam a vida.
Nesta quinta-feira, uma delegação de observadores da ONU visitou a cidade de Al-Hafa, na província de Latakia (noroeste), no dia seguinte ao anúncio feito pelas autoridades de que haviam "limpado" a região após intensos combates.
As forças do governo tentam há vários dias retomar com intensos bombardeios o controle de redutos rebeldes.
Essas novas baixas são registram um dia depois da morte de 77 pessoas no país, segundo o OSDH, que baseia seus cálculos em uma grande rede de militantes e testemunhas em toda Síria.
Crimes contra a Humanidade
A Anistia Internacional assegurou nesta quinta-feira que tem provas recentes de que o regime sírio tem cometido crimes contra a Humanidade para vingar-se das comunidades suspeitas de apoiar insurgentes na Síria.
A organização indicou que soldados sírios têm arrastado civis, incluindo crianças, para fora de suas casas para matá-los.
"Estas novas provas preocupantes mostram a necessidade urgente de uma ação internacional decisiva", declarou Donatella Rivera, especialista da Anistia Internacional para situações de crise.
A Anistia recolheu testemunhos entre os habitantes de 23 cidades da Síria e concluiu que as forças governamentais são culpadas por "sérios ataques contra o direito internacional humanitário, que vão de crimes de guerra a crimes contra a Humanidade", segundo Rivera.
A organização pediu à ONU a imposição de um embargo de armas e que o regime seja levado ao Tribunal Internacional de Justiça.
De acordo com o OSDH, a violência na Síria deixou mais de 14.400 mortos desde o início da revolta contra Bashar al-Assad, em março de 2011.
O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, cujo país é aliado do regime sírio, acusou os Estados Unidos na quarta-feira de entregar armas aos "países da região".
O diplomata reagiu às declarações da secretária de Estado americano, Hillary Clinton, que expressou a preocupação de Washington com o "envio de helicópteros de ataque provenientes da Rússia para Síria".
O ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, também pediu a total suspensão das exportações de armas para Síria e anunciou que seu país irá propor ao Conselho de Segurança que torne "obrigatórias" as disposições do plano Annan, recorrendo ao capítulo 7, que abre a porta para sanções e o uso da força.
Contudo, China e Rússia se opõem totalmente a qualquer tipo de ação armada contra o regime sírio.