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Irmandade Muçulmana reivindica vitória na eleição presidencial egípcia

Agência France-Presse
postado em 18/06/2012 08:46

Partidários da Irmandade Muçulmana comemoram a vitória de Mohammed Mursi na praça de Tahrir, no Cairo

Cairo - O candidato da Irmandade Muçulmana, Mohamed Mursi, reivindicou nesta segunda-feira (18/6) a vitória nas eleições presidenciais no Egito, logo após a decisão das Forças Armadas de assumir vastos poderes, uma atitude denunciada como um "golpe" pelos adversários dos militares. Mas a equipe do seu rival Ahmed Shafiq, o último primeiro-ministro de Hosni Mubarak, garantiu que ele estava à frente nos resultados provisórios da votação, que terminou domingo à noite, e acusou os islamitas de tentarem "roubar" a presidência.

O site do jornal pró-governo Al-Ahram anunciou, por sua vez, uma pequena vantagem de 51% para o candidato da Irmandade Muçulmana. Caso seja confirmada, a vitória de Mursi levará pela primeira vez um islamita à frente do país mais populoso do mundo árabe, com cerca de 82 milhões de habitantes. Estas eleições presidenciais, que dividiram profundamente o país e fizeram crescer o medo de novas tensões, foram as primeira desde a queda, em fevereiro de 2011, de Hosni Mubarak.

O próximo presidente, seja ele quem for, terá uma margem de manobra muito limitada diante dos militares que dirigem o país desde a saída de Mubarak, já que atribuíram para si amplos poderes, pouco antes do encerramento das urnas.

O Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA) confirmou nesta segunda-feira 918/6) a sua vontade de entregar as chaves para o futuro do presidente antes do final do mês, mantendo para si o controle legislativo e de outras manobras institucionais em nome "do equilíbrio de poder".

No domingo (17/6) à noite, o CSFA havia anunciado em uma "Declaração Constitucional" que exerceria o poder legislativo até a eleição de uma nova Assembleia do Povo, a Câmara dos Deputados dominada pela Irmandade Muçulmana que foi dissolvida na aplicação de um decreto da Alta Corte Constitucional por um vício jurídico na lei eleitoral.

A Irmandade Muçulmana se opôs fortemente à decisão do Exército, afirmando que a Assembleia do Povo permanece válida e mantém o poder legislativo. O Conselho Militar "não tem poder de dissolver a Assembelia", insistiu. Ela anunciou também que participará das manifestações "contra o golpe constitucional e contra a dissolução do Parlamento" para as quais foram convocados os militantes pró-democracia a partir de terça-feira.

Um golpe inconstitucional

"As Forças Armadas passaram o poder para as Forças Armadas", ironizou o jornal independente Al-Masri al-Yum. "Um presidente sem poder", era a manchete de outro jornal independente, o Al-Chruq.

A Coalizão dos Jovens da Revolução, que reúne vários movimentos que deram origem a revolta anti-Mubarak, denunciou um "golpe inconstitucional" dos militares, que "nunca vão reconhecer uma vontade popular que poderia contradizê-los".



O Partido da Liberdade e da Justiça (PLJ), braço político da Irmandade Muçulmana, presidido por Mursi, declarou em sua conta no Twitter que ele tinha sido "o primeiro presidente eleito pelo povo". De acordo com a sua equipe de campanha, Mursi obteve 52% dos votos contra 48% para Shafiq, um número ainda não oficial, mas confirmado pela televisão estatal.

Mursi está empenhado em trabalhar "juntamente com os egípcios para um futuro melhor, pela liberdade, democracia e paz". Ele também prometeu "servir a todos os egípcios" independentemente da sua política ou religião. O anúncio desta vitória foi imediatamente rejeitado pela equipe de Shafiq, um general aposentado considerado o candidato dos militares. "É um ato de pirataria reivindicar uma vitória usando números completamente errados", declarou à imprensa Ahmed Sarhan, um dos membros da equipe de Shafiq, que obteve, segundo ele, de 51 a 52% dos votos.

Os resultados oficiais devem ser anunciados na quinta-feira (21/6) pela Comissão eleitoral.

Tensões e incertezas

Estas tensões e incertezas políticas refletiram na Bolsa do Cairo, que perdeu 3,42% pontos em seu fechamento.

Os Estados Unidos manifestaram nesta segunda-feira (18/6) a sua "profunda preocupação" com os poderes assumidos pela junta militar egípcia. Washington espera que o CSFA transfira "todo o poder para um governo civil democraticamente eleito, como o CSFA havia anunciado anteriormente", declarou o porta-voz do Ministério americano da Defesa, George Little.

A União Europeia saudou, por sua vez, "a principal etapa" da eleição presidencial no Egito, mas pediu respeito à transição democrática e considerou que a situação institucional e legal deve ser "esclarecida o mais rápido possível após a Declaração do Exército."

Esta Declaração estipula também que o CSFA mantém o poder sobre "tudo o que se refere às Forças Armadas" e concede às Forças Armadas um direito de veto sobre qualquer artigo da futura Constituição que considerar "contrário aos interesses supremos do país".

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