Agência France-Presse
postado em 19/06/2012 16:29
Damasco - A ONU deve decidir nesta terça-feira (19/6) o futuro de sua missão de observação na Síria, suspensa devido à escalada da violência no país, onde milhares de civis estão encurralados em redutos rebeldes incessantemente bombardeados pelo Exército.Quatorze pessoas morreram nesta terça-feira após um dia sangrento, durante o qual 94 pessoas, incluindo 63 civis, foram mortas em bombardeios e em combates entre os soldados e insurgentes, de acordo com Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Enquanto o plano de paz do emissário internacional Kofi Annan, que estabelece um cessar-fogo e o fim da violência, não é respeitado, o Conselho de Segurança da ONU deve discutir esse plano e o futuro da sua missão de observação.
O general Robert Mood, chefe da missão da ONU (Misnus), deve apresentar um relatório ao Conselho de Segurança das Nações Unidas às 20h00 GMT (17h00 de Brasília) sobre a sua decisão tomada no sábado de suspender as atividades desta missão em razão da "intensificação da violência", que deixou mais de 3.300 mortos desde a sua mobilização em meados de abril.
O mandato de 90 dias da Misnus se estende até 20 de julho, mas muitos países ocidentais têm indicado que ele pode ser interrompido antes da hora, se a violência se intensificar.
Os ocidentais consideram o presidente Bashar al-Assad, de quem exigem saída imediata, o único responsável por esta deterioração, enquanto a China e a Rússia, aliadas do regime sírio, acusam os rebeldes.
Washington e Moscou unidos
O Conselho de Segurança, onde duas resoluções contra o regime já foram bloqueadas pela China e pela Rússia, reuniu-se após um apelo do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e de seu homólogo russo, Vladimir Putin, pelo "fim imediato" da violência, "a fim de parar o derramamento de sangue".
À margem da cúpula do G20, no México, os dois chefes de Estado afirmaram que estavam "unidos em torno da ideia de que o povo sírio deve escolher o seu futuro de forma independente e democrática".
Putin chegou a dizer que havia encontrado "vários pontos de acordo" com Obama sobre a maneira de resolver o conflito na Síria, onde uma revolta popular é reprimida violentamente desde março de 2011, custando milhares de vidas.
Esta revolta foi militarizada com a repressão brutal do regime e diante da impotência da comunidade internacional, aumentando os temores de que a Síria mergulhe em uma guerra civil.
[SAIBAMAIS]Em 15 meses de revolta, mais de 14.400 pessoas foram mortas, a maioria civis, segundo o OSDH.
As tropas bombardeiam há vários dias localidades ferozmente defendidas pelos rebeldes, incluindo Homs.
Violência sem cessar
A cidade de Rastan, na província de Homs, foi novamente alvo de violentos bombardeios, de acordo com o OSDH e ativistas. Um civil foi morto. Falta comida para seus habitantes e a energia elétrica foi "completamente cortada", indicaram os militantes.
Em Homs, os combates entre soldados e insurgentes recomeçaram no bairro de Baba Amr, ocupado desde março pelo Exército. "As colunas de fumaça se erguem pelo céu da região", afirmou a ONG em referência a "explosão em um gasoduto".
O OSDH pediu que a ONU para intervenha e permita a evacuação de "mais de 1.000 famílias de Homs, que estão impedidas de sair de suas casas pelos bombardeios e operações militares, e que vivem em condições humanas terríveis".
As autoridades de Damasco, por sua vez, afirmaram que tentaram, sem êxito, retirar os civis "sitiados por grupos terroristas".
Na província de Damasco, o Exército continua a bombardear Douma, onde cinco civis morreram, entre eles uma criança, informou o OSDH.
A cidade de Tafas, na província de Deraa (sul), berço da revolta, foi cercada pelas forças de segurança, após um violento bombardeio, segundo o Exército Sírio Livre (ESL), cujos membros resistem aos ataques.
Intensos combates também ocorreram na região de Idleb (noroeste), relatou a ONG. Em Deir Ezzor (leste), os militares invadiram um bairro, matando três civis. Na mesma província, um oleoduto foi alvo de uma bomba, disse a mesma fonte.
A agência de notícias oficial Sana acusa "grupos terroristas" de terem colocado uma carga explosiva no oleoduto, indicando que o "bombeamento foi interrompido e será retomado nos próximos dias, após os reparos".
Em busca de um maior apoio à "revolução", o ESL, força de oposição armada criada por soldados que desertaram, convocou "soldados e civis" da minoria curda para se juntar à rebelião.