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Legitimidade do governo paraguaio é questionada; Franco fica contra parede

Agência France-Presse
postado em 24/06/2012 13:20

Assunção - O novo governo paraguaio do presidente Federico Franco se encontrava isolado neste domingo de seus vizinhos latino-americanos, que de forma unânime questionaram a legitimidade da destituição na sexta-feira de seu predecessor, Fernando Lugo.

Seus sócios do Mercado Comum do Sul (Mercosul), Argentina, Brasil e Uruguai, decidiram no sábado retirar ou chamar para consultas seus embaixadores, depois que os países da Alba (Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua) anunciaram que não reconhecerão o novo governo.

O Brasil, principal sócio comercial do Paraguai (60% do total) com grandes interesses no país, classificou a destituição de Lugo de "ruptura da ordem democrática".

"O governo brasileiro condena o rito sumário de destituição do presidente do Paraguai decidido no dia 22 de junho passado, no qual não foi adequadamente garantido o amplo direito de defesa" e "considera que o procedimento adotado compromete o pilar fundamental da democracia, condição essencial para a integração regional", segundo um comunicado do ministério das Relações Exteriores.

"As medidas a serem aplicadas devido à ruptura da ordem democrática no Paraguai estão sendo avaliadas com os sócios do Mercosul e da Unasul, à luz dos compromissos com a democracia no âmbito regional", disse o ministério brasileiro.

[SAIBAMAIS]O presidente do centro de análises americano Diálogo Interamericano, Michael Shifter, disse à AFP que "os sinais que Brasília emitir serão cruciais para ter uma referência sobre o desafio que o novo governo paraguaio terá que enfrentar nos próximos meses">

Três diplomatas visitaram Franco no sábado no palácio presidencial: o embaixador dos Estados Unidos, James H. Thessin, o embaixador alemão Claude Robert Ellner, acompanhado do ministro de Cooperação Econômica e de Desenvolvimento da Alemanha, Dirk Niebel, que considerou "um processo normal" a destituição de Lugo, e o núncio apostólico Eliseo Ariotti.

O novo presidente liberal, por sua vez, encontra-se na defensiva diante da condenação unânime suscitada entre seus vizinhos pela destituição de seu antigo companheiro de chapa.

Em entrevista à AFP, Franco afirmou que pediria ajuda a Lugo para romper o isolamento regional no qual seu governo se encontra.

Pouco depois, o presidente destituído apareceu em uma rede de televisão e apoiou as medidas que estão sendo tomadas pelos vizinhos do Paraguai, reiterando que foi derrubado por um "golpe parlamentar".

"A comunidade internacional vê com objetividade e serenidade o processo paraguaio, vocês já sabem que os presidentes de Argentina, Brasil e Uruguai estão retirando seus embaixadores", disse Lugo.

"Aqui não destituíram Lugo, destituíram a democracia. Não respeitaram a vontade popular", disse o ex-presidente, antes de convocar um protesto pacífico.

O novo chanceler paraguaio, José Féliz Fernández Estigarribia, anunciou neste domingo que irá à cúpula que o Mercosul realizará em Mendoza (norte da Argentina) na próxima semana, e na qual o bloco deve abordar a destituição de Fernando Lugo da presidência.

"Participaremos da cúpula do Mercosul", disse Fernández Estigarribia em uma coletiva de imprensa para meios de comunicação internacionais na sede da chancelaria em Assunção, informando que ele e seu vice-chanceler integrariam a delegação, mas sem esclarecer se o novo presidente, Federico Franco, também viajará.

Embora no Paraguai o sábado tenha sido um dia de calma, as tensões sociais que provocaram a crise política que custou o cargo de Lugo estão latentes.

José Rodríguez, líder da Liga Nacional de Acampados, o movimento de sem-terra que protagonizou o violento confronto de oito dias atrás em Curuguaty com um saldo de 11 camponeses e 6 policiais mortos, que desencadeou a crise política, convocou seus seguidores a "permanecer mobilizados".

No entanto, Franco disse à AFP que "não tem sentido criar uma Comissão" que investigue a morte de camponeses e policiais na cidade de Curuguaty. A Comissão, com apoio da OEA, havia sido anunciada por Lugo um dia antes do início dos trâmites para seu julgamento político.

Lugo foi destituído na sexta-feira depois que o Senado o considerou culpado da acusação de "mau desempenho de suas funções" por uma maioria de 39 votos a favor e 4 contra.

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