Agência France-Presse
postado em 29/06/2012 15:12
Damasco - Milhares de pessoas protestaram nesta sexta-feira (29/6) na Síria, um dia após a morte de mais de 180 pessoas em um dos dias mais mortíferos desde o início do conflito no país, alvo de uma reunião bilateral entre os chanceleres de Estados Unidos e Rússia.O encontro de Hillary Clinton e Serguei Lavrov em São Petersburgo desta sexta-feira é realizado na véspera de uma reunião internacional crucial prevista em Genebra.
Estados Unidos, França ou inclusive Grã-Bretanha podem boicotá-la se considerarem que o plano do enviado especial da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, que prevê um governo de transição na Síria, corra o risco de não ser adotado.
O conflito é cada vez mais sangrento, com registros nas últimas semanas superiores a uma centena de mortos por dia. Na quinta-feira, alcançou 183 mortos, entre eles uma centena de civis e 60 soldados, segundo os números do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).[SAIBAMAIS]
Em mais de 15 meses de revolta, as operações de repressão e, há alguns meses, os combates entre o Exército e os rebeldes deixaram mais de 15.800 mortos, em sua maioria civis, segundo o OSDH.
Milhares de pessoas protestaram como em todas as sextas-feiras na Síria, apesar da intensificação dos combates e das operações nas cidades, seguindo a convocação dos militantes que manifestaram a sua confiança na "vitória divina" sobre o regime do presidente Bashar al-Assad.
No total, 25 pessoas, em sua maioria civis, morreram em atos de violência desta sexta-feira, segundo o OSDH.
Confiante no apoio de parte da população, Assad não reconhece os protestos e afirma que combate "grupos terroristas". Também acusa as potências ocidentais de apoiar militarmente "de maneira encoberta" a rebelião, em uma entrevista divulgada na quinta-feira pela televisão estatal iraniana.
Nestes últimos dias, a violência se aproximou dos centros de poder: um ataque contra um canal oficial deixou sete mortos na quarta-feira no centro de Damasco e um atentado a bomba deixou três feridos na quinta-feira em um estacionamento do palácio de justiça.
Paralelamente, tropas sírias se mobilizaram nesta sexta-feira a 15 km da fronteira com a Turquia, afirmou um funcionário de alto escalão rebelde: "Trata-se de uma demonstração de força diante dos turcos, que reforçaram sua presença na fronteira com a Síria" após o incidente com o avião de combate turco derrubado pelos sírios, disse.
Procurado, um porta-voz do Ministério sírio das Relações Exteriores afirmou que "não há intenções hostis por parte da Síria".
Na véspera, a imprensa turca havia afirmado que Ancara tinha enviado veículos militares e uma bateria de mísseis terra-ar à fronteira síria depois que seu avião de combate foi derrubado.
Uma reunião na corda bamba?
Na frente diplomática, o Ministério russo das Relações Exteriores disse que considerava a reunião crucial sobre a Síria, no sábado em Genebra, um "passo positivo" para alcançar um "consenso internacional", enquanto este encontro parece ameaçado pelas objeções de Moscou ao plano de Kofi Annan.
"Vemos a reunião de Genebra como um passo positivo na busca de bases para conquistar um possível consenso internacional visando à regularização da situação na Síria", indica o comunicado da Chancelaria russa antes de um encontro previsto para a noite em São Petersburgo entre Lavrov e Hillary.
A reunião de Genebra deve ser realizada na presença dos chefes da diplomacia dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e de três países árabes, assim como dos secretários gerais da ONU e da Liga Árabe.
Depois de Moscou, principal aliado do regime de Assad, afirmar que não havia um acordo final sobre o plano e que mantinha sua rejeição a uma solução imposta pelo exterior, um porta-voz de Annan confirmou o encontro de sábado, após o fim das reuniões preliminares desta sexta-feira do grupo preparatório de funcionários de alto escalão.
"As discussões preparatórias terminaram. Seguirão no sábado em nível ministerial", disse Ahmad Fawzi.
Em um documento preparatório, do qual a AFP obteve uma cópia, Annan aponta etapas "claras e irreversíveis" em direção a uma transição democrática na Síria, entre elas um "governo provisório de união nacional".
"Aqueles que, com a sua presença, possam prejudicar a credibilidade da transição e colocar em risco a estabilidade e a reconciliação" serão excluídos deste governo de união, acrescenta o texto, sem dar mais detalhes.
Segundo fontes diplomáticas, esta cláusula poderia abrir espaço para a saída do poder do presidente Assad, algo que a oposição síria considera uma condição indispensável para iniciar o diálogo.