Agência France-Presse
postado em 29/06/2012 16:18
Cairo - O presidente egípcio eleito, o islamita Mohamed Mursi, prestou simbolicamente seu juramento nesta sexta-feira (29/6) para milhares de pessoas presentes na Praça Tahrir, advertindo ao Exército que nenhum poder está acima do povo."Juro por Deus preservar o sistema republicano, respeitar a Constituição e a lei, proteger totalmente os interesses do povo e preservar a independência da Nação e a segurança de seu território", disse solenemente diante da multidão, um dia antes da posse oficial no Supremo Tribunal Constitucional.
"Vocês são a fonte de poder e legitimidade, que está acima de todos. Não há espaço para ninguém, para nenhuma instituição que queira passar por esta vontade", disse o presidente eleito, cujos poderes foram limitados em favor do Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA), que governou o país desde a queda de Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011.
"Eu não vou desistir de qualquer das prerrogativas do presidente", martelou em um tom desafiador.
Descrito por alguns como pouco carismático, Mursi, candidato da Irmandade Muçulmana, falou de forma firme e apaixonada, aplaudido pela multidão que o recebeu ao som do hino nacional.
"Eu sou um de vocês. Eu tenho medo apenas de Deus", afirmou ao homenagear "a praça da revolução, a praça da liberdade, a Praça Tharir", símbolo da contestação que derrubou Mubarak.
Para tranquilizar aqueles que, como os cristãos e laicos, temem que a chegada do poder islâmico seja sinônimo de restrição da liberdade de expressão e de culto, Mursi também prometeu um estado "civil, patriótico, constitucional e moderno".
Ele também reafirmou o seu "respeito pelas pessoas da arte, da criação e da cultura, pelas pessoas da imprensa leais ao Egito" e "por aqueles que trabalham no campo do turismo".
"Vocês que me elegeram e os que se opuseram a mim, eu sou de todos vocês não farei diferenciação alguma entre partidários e opositores", assegurou.
Mursi prometeu também trabalhar para libertar o xeque Omar Abdel-Rahman, condenado à prisão perpétua nos Estados Unidos por conspiração para cometer atentados em Nova York.
Logo pela manhã, assim como há vários dias, os egípcios começaram a se reunir na Tahrir para denunciar o que chamam de tentativa dos militares de manter o poder.
O CSFA se comprometeu a entregar o poder ao novo chefe de Estado até 30 de junho. Mas recuperou o poder Legislativo recentemente, após a dissolução em meados de junho da Assembleia do Povo, dominada por islamitas, em virtude de decisão judicial contra a fórmula das eleições.
Esta disposição permite que os generais mantenham o direito de vetar qualquer nova legislação ou medida orçamentária que não aprovem. O Exército também reserva o direito de inspecionar a elaboração da futura Constituição, a pedra angular da partilha do poder no futuro.[SAIBAMAIS]
Esse conflito institucional foi traduzido nos últimos dias por uma polêmica entre o novo presidente e o poder militar sobre o procedimento da tomada de posse.
Segundo os militares, o presidente deve prestar juramento perante o Supremo Tribunal Constitucional, nos termos da "Declaração Constitucional Complementar", recentemente adotada pelo exército.
Mas a Irmandade Muçulmana, que denunciou esta declaração como "um golpe de Estado", exigiu que a passagem do poder ocorra na Assembleia, ainda considerada legítima por eles.
Mursi finalmente fará seu juramento oficial diante do Supremo Tribunal Constitucional, de acordo com um comunicado da presidência.
O anúncio decepcionou os "revolucionários", que anunciaram sua retirada da Praça Tahrir por considerarem que o juramento perante a Corte equivale "a um reconhecimento implícito da Declaração Constitucional Complementar".
Antes de chegar à Tahrir, Mursi, primeiro presidente islamita e não-militar do Egito, rezou na grande mesquita de Al-Azhar.
A Anistia Internacional exigiu de Mursi "ações decisivas em seus 100 primeiros dias para colocar o Egito no caminho de um Estado de direito e do respeito dos direitos Humanos".
Mursi venceu o último primeiro-ministro de Mubarak, Ahmed Shafiq, na primeira eleição presidencial após a revolta anti-Mubarak.
Ele começou a trabalhar na formação de "um governo de coalizão" para cumprir as promessas de abertura e para ampliar sua base política. Mursi deixou a entender que seu futuro primeiro-ministro deverá ser uma personalidade "independente".