Agência France-Presse
postado em 02/07/2012 15:36
Cairo - Membros da oposição síria tentavam nesta segunda-feira (2/7) no Cairo, sob a égide da Liga Árabe, elaborar um projeto comum para o país, depois de terem rejeitado um plano internacional que prevê um governo de transição, em um dia marcado por denúncias da ONU a respeito de novas violações dos direitos humanos. Esta reunião "é uma oportunidade que não pode ser perdida", declarou o secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, convocando a oposição a se unir.Nasser al-Qidwa, adjunto do mediador internacional Kofi Annan, também pediu união à oposição. "Não há opção, (esta união) é uma necessidade se a oposição quiser obter a confiança de seu povo na Síria", disse.
[SAIBAMAIS]Os ministros das Relações Exteriores de Egito, Turquia, Iraque e Kuwait também estavam presentes. O objetivo é "chegar a uma visão unificada sobre o período de transição e o futuro da Síria", disse Georges Sabra, porta-voz do Conselho Nacional Sírio (CNS). Esta coalizão, principal grupo da oposição no exterior, participa da reunião.
Por sua vez, os rebeldes do Exército Sírio Livre (ESL), força armada de oposição integrada essencialmente por soldados desertores, anunciaram que irão boicotar a reunião, classificando-a de complô e rejeitando qualquer negociação com o regime.
Os novos esforços são realizados um dia depois de a oposição síria ter rejeitado, classificando de "farsa", um acordo sobre os princípios de uma transição na Síria estipulados pelas grandes potências mundiais após uma reunião no sábado em Genebra.
A reunião, que durará dois dias, é realizada em meio à violência na Síria. A chefe dos Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, afirmou nesta segunda-feira que o governo sírio e a oposição são responsáveis por novas e sérias violações aos direitos humanos, incluindo ataques contra hospitais, depois de um encontro com o Conselho de Segurança.
Pillay voltou a pedir que os 15 membros do Conselho de Segurança levem o conflito sírio ao Tribunal Penal Internacional (CPI), mas admitiu que a decisão final a respeito seria de caráter meramente político.
Mais de 16.500 pessoas perderam a vida em episódios de violência na Síria desde o início da revolta contra o regime de Bashar al-Assad, em março de 2011, anunciou nesta segunda-feira o Observatório sírio de Direitos Humanos (OSDH).
O Exército sírio mantinha nesta segunda-feira o bombardeio aos bairros rebeldes da cidade de Homs (centro), onde os médicos se veem obrigados a realizar amputações nos feridos devido à falta de meios para atendê-los, segundo militantes.
O bombardeio visava, em particular, os bairros de Khaldiyé e de Khurat al-Chayah, que as forças regulares tentam recuperar, segundo os militantes e o Observatório sírio de Direitos Humanos. Segundo o OSDH, mais de mil famílias estão bloqueadas na cidade e precisam de tudo. Segundo esta ONG, os moradores se alimentam com pão velho por causa da falta de farinha de trigo, sem contar com os cortes de eletricidade e de água.
No domingo, cerca de 80 pessoas, em sua maioria civis, morreram em atos de violência. Dois membros da polícia fronteiriça síria ficaram feridos nesta segunda-feira por um foguete disparado de território libanês, indicou um comunicado da segurança geral libanesa. "Na madrugada de segunda-feira, dois homens armados dispararam a partir de Buqaya, em território libanês, um foguete na direção da Síria que atingiu um posto de imigração sírio, ferindo dois membros do posto fronteiriço", segundo o comunicado.
É a primeira vez que a Síria relata disparos contra seu território a partir do Líbano. Um cessar-fogo decretado no dia 12 de abril continua sem ser aplicado. Por sua vez, os confrontos se acentuaram nas últimas semanas a tal ponto que os observadores enviados pela ONU para supervisionar a trégua suspenderam suas operações.