Agência France-Presse
postado em 03/07/2012 09:31
Ancara - O presidente sírio Bashar al-Assad tentou acalmar a situação internacional nesta terça-feira e lamentou que seu país tenha derrubado um avião de combate turco em 22 de junho, afirmando que não tem a intenção de concentrar tropas na fronteira entre os dois países."Gostaria cem por cento que não tivéssemos derrubado", disse o presidente sírio em uma entrevista ao jornal turco Cumhuriyet, duas semanas depois do Phantom F-4 turco ter sido abatido no Mediterrâneo. "O avião voava em um corredor aéreo que foi utilizado três vezes no passado pela aviação israelense", disse Assad. "Ficamos sabendo que o avião era turco depois que derrubamos", completou, a respeito do incidente que aumentou a tensão entre Turquia e Síria. Assad também afirmou que não enviará tropas à fronteira.
"Faça o que fizer o governo (turco de Recep Tayyip) Erdogan não procederemos nenhuma concentração de tropas na fronteira. O povo turco é amigo e nos compreenderá", completou. Na sexta-feira, um dirigente da rebelião síria, o general Mustafah al-Sheikh, afirmou que tropas sírias estavam concentradas a 15 quilômetros da fronteira com a Turquia. A Turquia enviou soldados à fronteira, além de blindados e baterias de mísseis. Ancara acusou Damasco de ter derrubado o avião em águas internacionais, mas admitiu que a aeronave havia momentaneamente violado de maneira não deliberada o espaço aéreo sírio e denunciou um "ato hostil" e "intencional".
[SAIBAMAIS]A Síria afirmou que o avião foi derrubado em seu espaço aéreo e o presidente sírio rebateu as acusações turcas. "Um país em guerra sempre atua desta forma, a aeronave voava em baixa altitude e foi derrubado pela defesa antiaérea, que o considerou um avião israelense como os que atacaram a Turquia em 2007. O soldado que operava a defesa antiaérea não tinha radar e, portanto, não podia saber a que país pertencia", afirmou Assad. O presidente sírio apresentou condolências aos familiares dos dois pilotos do F4, que não foram encontrados.
"Se o avião tivesse sido abatido no espaço internacional, não teríamos hesitado em apresentar nossas desculpas", completou Assad, para quem o incidente não deve provocar um confronto armado com a Turquia. "Não queremos nem pensar que este avião foi enviado deliberadamente a nosso espaço aéreo. Queremos pensar que se trata de um erro do piloto e consideramos este fato como parte do passado, que não deve ser exagerado. Não temos nada a ganhar derrubando um avião de combate turco". "Evidentemente, teria ficado feliz se tivesse sido um avião israelense", acrescentou.
O regime de Assad enfrenta desde março de 2011 protestos políticos e militares. Em mais de 15 meses de revolta, a repressão e, nos últimos meses, os combates entre o Exército e os insurgentes mataram quase 16.000 pessoas, a maioria civis, segundo a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos. A Turquia se distanciou da Síria, que era sua aliada, após repressão aos protestos. Ancara recebeu mais de 35.000 refugiados e soldados desertores sírios e manifesta apoio à oposição.