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Human Rights Watch denuncia existência de arquipélago da tortura na Síria

Agência France-Presse
postado em 03/07/2012 15:02
Nova York - Milhares de pessoas estão detidas na Síria, num conjunto de instalações carcerárias onde são espancadas, submetidas a choques elétricos e a outros maus-tratos, denunciou nesta terça-feira (3/7) a organização Human Rights Watch (HRW), que menciona um "arquipélago da tortura".

A ONG com sede em Nova York afirma ter mantido mais de 200 conversas com ex-detentos e com militares e membros das forças de segurança do Estado que desertaram, graças aos quais recebeu informações a respeito da existência de 27 centros de detenção gerenciados por quatro dos principais organismos de inteligência sírios conhecidos pelo nome de ;mujabarat;.

Além desses centros, são utilizados bases militares, estádios, escolas e hospitais com o mesmo propósito.

Praticamente todas essas pessoas consultadas pela HRW disseram ter sofrido ou sido testemunhas de torturas. Em particular, declararam que há detidos que foram "longamente espancados, geralmente com pedaços de pau ou barras de ferro, desde o início do movimento de rebelião contra o regime de Bashar al-Assad há 15 anos."

Há prisioneiros que são mantidos em posições de estresse dolorosas por longos períodos, geralmente por equipes de pessoas treinadas para esse fim, acrescenta a ONG defensora dos direitos humanos, que também denuncia "queimaduras com ácido, agressões e humilhações sexuais, arrancar de unhas e simulações de execuções".

Os ex-detidos contatados pela HRW fizeram referência, além disso, a centros de detenção superlotados, à má alimentação e à recusa sistemática de atendimento médico. Vários disseram ter visto pessoas morrerem devido à tortura.

Um homem de 31 anos, detido na província de Idleb (norte), contou que, durante os interrogatórios, esmagaram seus dedos com alicates e prenderam grampos em várias partes de seu corpo.

"Não tiravam enquanto eu não falasse. Colocaram cabos conectados a baterias de carro para me dar choques elétricos. Duas vezes fizeram isso com minha genitália", contou.

"Achei que nunca mais veria minha família. Fui torturado três vezes em três dias".



Um ex-oficial, também citado pela HRW, descreveu os métodos de tortura: pendurar o prisioneiro pelas mãos, prender pessoas vivas em um caixão e ameaças de morte.

"Também os vi recorrer a golpes de artes marciais, como quebrar a costela do preso com uma joelhada. Também enfiam agulhas na planta dos pés e obrigam a caminhar", explicou.

Mais de 16.500 pessoas perderam a vida em episódios de violência na Síria desde o início da revolta contra o regime de Bashar al-Assad, em março de 2011, anunciou na segunda-feira o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

Ao menos 11.486 civis, 4.151 membros das forças oficiais e 870 desertores morreram, indicou à AFP esta organização com sede na Grã-Bretanha, que obtém seus dados através de uma vasta rede de militantes e testemunhas.

É impossível obter um balanço de fonte independente desde que a ONU deixou de contabilizar as vítimas, no fim de 2011.

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