postado em 04/07/2012 07:00
O jovem sírio Hossam, 14 anos, se senta na penumbra de um quarto, em frente a uma câmera de vídeo. O tom de sua voz ; ainda infantil ;, narra, em árabe, os três dias durante os quais foi interrogado pelas forças de inteligência do regime de Bashar Al-Assad que comandavam um dos 27 centros de torturas recém-catalogados no país (veja o mapa). O menino recebeu choques elétricos até perder a consciência e teve todas as unhas arrancadas por um alicate. Com os olhos vendados, não conseguiu dar aos algozes as respostas esperadas. Outras dezenas de relatos mais violentos ; de torturados e desertores ; fazem parte do dossiê publicado ontem pela organização Human Rights Watch (HRW). As conclusões do relatório podem culminar no esperado processo contra o regime sírio no Tribunal Penal Internacional (TPI).
Em entrevista ao Correio, por telefone, o conselheiro jurídico e porta-voz da HRW em Bruxelas, Reed Brody (leia o Três perguntas para), contou que o relatório Arquipélogo de torturas: prisões arbitrárias, tortura e desaparecimentos forçados levou um ano para ser concluído e contou com mais de 200 entrevistas. A maioria dos depoimentos foi concedida por refugiados sírios que hoje vivem no Líbano, na Turquia e no Reino Unido. Os entrevistados forneceram informações detalhadas que possibilitaram que a organização mapeasse com precisão a localização de 27 centros de torturas no país e, muitas vezes, os nomes das agências e dos comandantes responsáveis por cada um deles.