Agência France-Presse
postado em 07/07/2012 08:47
Trípoli - As sessões eleitorais abriram cedo neste sábado (7/7) na Líbia para a eleição do primeiro Congresso Geral Nacional da era pós-Muamar Kadafi, num contexto de tensões e violência, principalmente no leste do país.Alguns eleitores em Trípoli foram votar com as bandeiras negras, vermelhas e verdes da revolução, e as mesquitas repetiam a todo volume seu "Alá Akbar" (Deus é grande). As sessões ficarão abertas até as 20h locais (15h de Brasília) e os resultados da votação serão anunciados a partir de segunda ou terça-feira, segundo a Comissão Eleitoral.
A semana foi marcada por tensões no leste do país, onde os partidários de uma maior autonomia convocaram o boicote da votação e ameaçaram sabotar as eleições para denunciar a divisão de cadeiras da futura assembleia (100 vagas para o oeste, 60 para o leste e 40 para o sul).
Estas tensões terminaram na morte, na sexta-feira, de um funcionário da Comissão Eleitoral devido a um disparo de arma leve contra um helicóptero que transportava material para as eleições na região de Hauari, sul de Benghazi, a principal cidade do leste.
Além disso, o terminal petroleiro de Ras Lanouf foi fechado na quinta-feira por partidários do federalismo.
Os líbios elegerão os 200 membros do primeiro Congresso Geral Nacional que deverá nomear um novo governo e um comitê de especialistas encarregado de redigir um projeto de Constituição, que depois será submetido a referendo.
Mesmo que ainda não haja data para o anúncio dos resultados, uma vez que a nova assembleia tenha realizado sua primeira sessão, o Conselho Nacional de Transição (CNT), que dirige a Líbia desde a queda do regime Kadafi, terá que renunciar.
A votação, prevista inicialmente para 19 de junho, segundo o calendário do CNT, foi adiada por razões técnicas e logísticas, indicou a comissão eleitoral.
Num total de seis milhões de habitantes, 2,7 milhões de líbios estão inscritos nas listas eleitorais para participarem das primeiras eleições desde 1954.
Embora mais de 4.000 candidatos individuais ou inscritos nas listas de movimentos políticos tenham se apresentado, a comissão eleitoral só declarou elegíveis 2.501 independentes e 1.206 de grupos políticos.
O país está dividido em 72 circunscrições. Em algumas regiões os eleitores precisam eleger um partido político e um candidato individual, e em outras, apenas um dos dois.
No total, 620 mulheres apresentaram suas candidaturas e estão bem representadas nas listas dos partidos, embora entre os candidatos individuais só representem 3,4%.
Os assentos são divididos entre candidatos independentes (120) e movimentos políticos (80), uma maneira de evitar, segundo as autoridades, que apenas um partido político domine a futura Assembleia Constituinte.
Isto não impede, no entanto, que alguns partidos apoiem candidatos individuais, o que poderia levar os islamitas ao poder na Líbia, como já aconteceu na Tunísia e no Egito, dois países que também viveram a onda de protestos da chamada "Primavera Árabe".
Três partidos principais
Durante a campanha eleitoral, que terminou na quinta-feira, principalmente três partidos se destacaram.
Dois deles são islamitas: o Partido da Justiça e da Construção (PJC), um braço da Irmandade Muçulmana, e o Al-Watan, do polêmico ex-chefe militar de Trípoli Abdelhakim Belhaj.
O terceiro grupo político de destaque é o dos liberais, reunidos em uma coalizão lançada por Mahmud Jibril, o ex-primeiro-ministro do CNT durante a revolta contra Kadhafi.
A repartição geográfica dos assentos da assembleia foi muito discutida, sobretudo no leste do país, onde os partidários do federalismo pediam mais deputados.
O Conselho Nacional de Transição decidiu finalmente distribuir assentos de acordo com considerações demográficas, de modo que 100 serão eleitos no oeste do país, onde há o maior número de habitantes.
O CNT também decidiu sob pressão que o sistema de votação da futura Assembleia Constituinte seja por maioria de dois terços, de modo que o oeste do país não possa tomar uma decisão sem a aprovação das outras regiões.
Mas os federalistas exigem uma "repartição equitativa" dos assentos e ameaçam boicotar e sabotar o processo eleitoral se suas reivindicações não forem levadas em conta. Nos últimos dias eles inclusive saquearam centros de votação no leste da Líbia, sobretudo na cidade de Benghazi.
Diante dessas ameaças, existem dúvidas sobre a capacidade das autoridades de garantir a segurança das eleições, em um país onde milícias com armas pesadas circulam impunemente .