Agência France-Presse
postado em 19/07/2012 13:30
Nova York - Rússia e China utilizaram nesta quinta-feira (19/7) seu direito de veto no Conselho de Segurança da ONU contra uma resolução apresentada por países ocidentais que ameaçava sancionar o regime sírio, uma decisão fortemente criticada por Europa e Estados Unidos.Esta é a terceira vez em nove meses que Rússia e China utilizaram seu direito de veto como membros permanentes do Conselho para bloquear resoluções contra Damasco. As duas outras foram em outubro de 2011 e em fevereiro de 2012.
Entre os 15 países membros, a resolução -apresentada por França, Estados Unidos, Alemanha, Portugal e Reino Unido- recebeu 11 votos a favor, dois contra e houve duas abstenções (Paquistão e África do Sul).
A Casa Branca considerou que a missão do enviado especial da ONU e da Liga Árabe à Síria, Kofi Annan, "não pode continuar" depois do veto.
O porta-voz do governo americano, Jay Carney, classificou de "altamente lamentável a decisão" de Rússia e China.
Annan reconheceu que está "decepcionado que neste ponto crítico, o Conselho de Segurança da ONU não tenha conseguido se unir e adotar uma ação concertada", informou seu porta-voz Ahmad Fawzi.
A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Susan Rice, disse que o Conselho "fracassou totalmente" na Síria. "Intensificaremos nosso trabalho com um amplo grupo de sócios de fora do Conselho de Segurança para pressionar mais o regime de (o presidente Bashar) al-Assad e para ajudar aqueles que precisam", anunciou.
"Está claro que a Rússia quer apenas dar mais tempo ao regime sírio para esmagar a oposição", afirmou o representante da França, Gérard Araud. "Para Moscou e Pequim, parece que continuamos sendo muito duros com os ditadores sanguinários", acrescentou.
Araud advertiu ambos os países que "a história não lhes dará razão, a história os julgará, já começa a fazê-lo neste momento em Damasco", referindo-se aos combates travados na capital síria.
Moscou se defendeu, alegando que a resolução "abria caminho para pressionar com sanções e, mais adiante, para um envolvimento militar externo nos assuntos internos" sírios, ressaltou o embaixador russo Vitaly Churkin.
Embaixadores ocidentais responderam que a resolução só ameaçava o regime sírio com sanções econômicas e não com o uso da força militar.
"Nosso projeto de texto fazia uma ameaça de sanções. (...) O Conselho seguia aguardando as etapas seguintes", afirmou Araud.
Segundo o diplomata francês, o veto de russos e chineses "coloca em perigo" a missão de Annan.
O embaixador britânico Mark Lyall Grany disse estar "consternado com o veto de Rússia e China", aos quais acusou de "pôr seus interesses nacionais à frente das vidas de milhões de sírios". A consequência do veto é "proteger um regime brutal", acrescentou.
Seu colega alemão, Peter Wittig, lamentou que se tenha desperdiçado uma oportunidade de pressionar Damasco e considerou que o povo sírio pode "pagar o preço". "Os dias do regime de Assad estão contados", declarou.
[SAIBAMAIS]O projeto de resolução ocidental procurava impor sanções econômicas contra Damasco se as forças militares continuassem utilizando armas pesadas contra a oposição nos 10 posteriores à aprovação do projeto.
Também prolongava em 45 dias o mandato da missão de 300 observadores da ONU na Síria (Misnus), que expira sexta-feira.
Carney disse que sem o mandato mais firme que a resolução do Conselho vetada representaria, não há motivos para manter os observadores da ONU na Síria, motivo pelo qual é pouco provável que a missão seja renovada.
O veto no Conselho de Segurança coincide com a escalada da violência dos combates entre o Exército e a oposição armada que são travados em Damasco, onde centenas de pessoas fugiam de suas casas e onde, na quarta-feira, um atentado a bomba resultou na morte do ministro da Defesa, de seu vice-ministro e cunhado de Assad, e do chefe da célula de crise.