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Atentado desferiu duro golpe em Assad, mas presidente não planeja ceder

Agência France-Presse
postado em 19/07/2012 16:48
Beirute - O presidente sírio, Bashar al-Assad, sofreu um duro golpe com a morte de três autoridades da segurança de seu círculo mais próximo em um atentado em Damasco ocorrido na quarta-feira, mas não planeja ceder o poder, consideram os especialistas, que acreditam que o presidente, assim como os rebeldes, está convencido de que poderá vencer a disputa.

"Deve estar consternado e se sentir colocado contra a parede após a perda de Manaf Tlass, seu amigo que desertou na semana passada, e com a morte na quarta-feira de três importantes autoridades da segurança", considerou o professor Volker Perthes, diretor do Instituto alemão para as Relações Internacionais e de Segurança, com sede em Berlim.

Para o autor de "Síria sob Assad: modernização e limites da mudança", publicado em 2004, a queda do regime não deve ocorrer em pouco tempo. "Precisa combater porque está colocado contra a parede. Não tem a intenção de ceder imediatamente e seu poder de fogo é maior que o dos rebeldes", acrescentou.

"Se ocorrerem vários combates tão fortes como o de ontem, se a estrutura de comando se quebrar, pode-se ter todo o poder de fogo que quiser, mas não servirá de grande coisa", acrescentou este especialista da Síria.

Na quarta-feira, um atentado espetacular no edifício ultraprotegido da Segurança Nacional de Damasco causou a morte do ministro da Defesa, o general Daoud Rajha, de seu vice-ministro e cunhado do presidente, o general Assef Shawkat, e do general Hassan Turkmeni, chefe da célula de crise criada para sufocar a revolta.

A explosão, a qual ainda não se sabe se foi obra de um camicase ou não, também feriu o ministro do Interior e o chefe da Segurança Nacional. Fabrice Balanche, especialista francês da Síria, considerou que "o poder cambaleou com força, mas não está quebrado".

"O poder teria se quebrado se Bashar estivesse morto. O ministro da Defesa era um fantoche, o que o substitui não é melhor. Por sua vez, a morte de Assef Shawkat é muito mais grave, já que ele era o verdadeiro ministro da Defesa", disse.


Mas para o diretor do Grupo de Pesquisa e Estudos do Mediterrâneo e do Oriente Médio de Lyon (centro da França), "este golpe provocará novas deserções no alto escalão entre os sunitas e obrigará o regime a se concentrar no núcleo alauita".

O presidente, assim como os pilares do regime, pertence à comunidade alauita, um braço do xiismo que representa 10% da população síria, que é de maioria sunita. Rime Allaf, pesquisadora do Instituto Chatham House, de Londres, compartilha este ponto de vista. "É um golpe duro, mas não se pode pensar que terminou, porque o regime ainda tem apoios no aparato militar e de segurança, assim como o de Rússia e Irã", ressaltou.[SAIBAMAIS]

Todos estes especialistas concordam, no entanto, que a violência irá aumentar. "A violência aumentará no curto prazo. É algo comum nas guerras civis: os dois grupos estão certos de que têm os meios para avançar, provavelmente para vencer ou ao menos melhorar sua posição antes de entrar em negociações", considerou o professor Perthes. Para Balanche, "os combates também vão se intensificar, já que a oposição está estimulada por este atentado. Quanto às forças do regime, realizarão uma guerra sem quartel".

Pode ocorrer "um novo Baba Amr em um bairro de Damasco. Uma limpeza étnica do tipo de Houla ou de Treimsa na periferia alauita realizada pelos fiéis de Assef Shawkat que vão querer vingar seu chefe", acrescentou. Baba Amr é um bairro de Homs que hoje está totalmente deserto. Foi conquistado pelo exército após violentos combates. Houla e Treimsa são localidades sunitas onde a oposição acusou as milícias pró-governamentais de terem cometido "massacres".

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