Agência France-Presse
postado em 19/07/2012 16:50
Tunis - O presidente tunisiano deposto Zine al-Abidine Ben Ali foi condenado à revelia à prisão perpétua pela segunda vez em um mês por cumplicidade no assassinato de manifestantes, mas as absolvições de alguns réus provocaram novamente a ira dos familiares das vítimas.Ele foi julgado com outros 40 oficiais e funcionários de seu regime, incluindo o general Ali Seriati, ex-chefe da segurança presidencial, que foi condenado a 20 anos de prisão, indicou o juiz Hedi Ayari do tribunal militar de Túnis, de acordo com um jornalista presente na audiência.
Dois ex-ministros do Interior também estavam no banco dos réus, Rafik Belhaj Kacem, condenado a 15 anos, e Ahmed Friaa, que foi absolvido. No total, 21 acusados foram absolvidos. Entre eles, Mohamed Arbi Krimi, diretor de operações do Ministério do Interior e o ex-chefe dos serviços especiais, Rachid Ben Abid, informou um funcionário da justiça militar a um jornalista da AFP. Zine El Abidine Ben Ali foi o único condenado a passar o resto de sua vida na prisão. Os outros receberam penas de entre cinco e vinte anos de prisão.
As famílias das vítimas reagiram com indignação, afirmando que o veredicto foi clemente demais. Alguns parentes estavam transtornados e em lágrimas. "Todos os culpados merecem prisão perpétua", gritavam os familiares presentes, enquanto o veredicto era anunciado no fim da manhã desta quinta-feira.
"Nossos filhos não são insetos para que os culpados sejam condenados a apenas cinco anos de prisão. Iremos nos vingar, não ficaremos em silêncio e não vamos ficar de braços cruzados", disse Saida Sifi, mãe de um jovem de 19 anos morto durante a revolta.
Após o veredicto, a presidente da Associação das Famílias dos Mártires, Lamia Farhani, correu para a irmã de um dos acusados que alegava a inocência de seu irmão, um tenente condenado. "Não há lei, não há justiça", gritou Farhani.
Por outro lado, o advogado de Ali Seriati Mohamed Mejri, denunciou a gravidade da pena imposta a seu cliente, ressaltando que ele havia sido absolvido em um caso semelhante no mês passado perante o tribunal militar de Kef (oeste). Ele se referiu a um complô da classe política.
"Seriati não tinha nada a ver com a segurança do país, ele se ocupava apenas da presidência", afirmou Merji. "No mesmo caso, Seriati foi absolvido em Kef, aqui ele foi condenado a 20 anos devido à pressão de deputados da Assembleia Nacional Constituinte", acrescentou.
Os acusados foram julgados por seu papel na morte de cerca de 40 manifestantes em Túnis e em outras cidades no norte do país, onde mais 97 pessoas ficaram feridas. No total, mais de 300 pessoas morreram durante a revolta popular, iniciada em 17 de dezembro de 2010 e que terminou em 14 de janeiro de 2011 com a fuga de Ben Ali para a Arábia Saudita.
O presidente deposto já foi condenado em vários casos. Em meados de junho, recebeu a pena de prisão perpétua anunciada pelo tribunal militar de Kef por seu envolvimento na morte de 20 manifestantes. Na ocasião, a absolvição de dez acusados, entre eles importantes dirigentes do país, desencadeou a ira da população.
A organização Human Rights Watch indicou em um relatório que o Código Penal da Tunísia foi "mal preparado" porque "não abordava o conceito de responsabilidade do comando superior", o que poderia explicar as absolvições por falta de evidências diretas envolvendo os acusados.