Agência France-Presse
postado em 20/07/2012 12:44
Varsóvia - Varsóvia recordará no domingo o 70; aniversário do extermínio dos moradores do maior gueto judeu pela Alemanha nazista, uma operação que custou a vida de 260 mil judeus desta cidade, deportados para o campo de extermínio de Treblinka."No dia 22 de julho de 1942, os ocupantes alemães publicaram um decreto segundo o qual os moradores do gueto que não tinham uma licença de trabalho especial deveriam se apresentar em Umschlagplatz, uma estação ferroviária. Caso contrário, seriam fuzilados", disse Pawel Spiewak, presidente do Instituto Histórico Judeu (ZIH).
O gueto de Varsóvia era o mais importante de todos os guetos judeus erguidos pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Antes da guerra, Varsóvia tinha a maior comunidade judaica do mundo, atrás apenas de Nova York. "Em três meses, 260 mil habitantes do gueto foram deportados e assassinados, ou seja, um quarto da população de Varsóvia", lembrou o historiador. "Com eles desaparecia para sempre toda uma cultura da cidade", acrescentou.
Um ano depois de ter invadido a Polônia, os ocupantes alemães criaram, em outubro de 1940, em pleno centro de Varsóvia, um bairro especial, fechado e cercado por muros, para instalar ali quase meio milhão de judeus. A fome e as doenças dizimaram essa população, espremida em uma superfície de apenas 3 km2.
O decreto relativo ao extermínio desse gueto foi publicado no âmbito da grande operação "Reinhardt" de extermínio dos judeus, lançada em 1941 pelos alemães na zona do governo geral, o território da Polônia ocupada, que ia de Varsóvia, ao norte, Cracóvia, ao sul, até Lublin, a leste. Nesta operação, dois milhões de judeus perderam a vida nos campos de extermínio de Treblinka, Sobibor e Belzec.
[SAIBAMAIS]O extermínio do gueto foi administrado pela SS, assim como por unidades de colaboradores ucranianos, letões e lituanos. Após três meses de deportação para o campo de Treblinka, 100 km a nordeste de Varsóvia, só restavam nesse gueto 35 mil judeus registrados e outros 25 mil que viviam ali escondidos. No domingo, por ocasião deste 70; aniversário, será organizada uma marcha em memória das vítimas mais jovens do Holocausto e do pediatra e defensor de seus direitos Janusz Korczak.
"Nós queremos, através desta marcha, lembrar o personagem de Korczak e as crianças que foram as maiores e mais fáceis vítimas deste massacre", disse Spiewak, lembrando que apenas 500 crianças conseguiram sobreviver aos três meses de deportação. Os participantes nesta marcha percorrerão no sentido inverso o caminho seguido por Korczak até a "Umschlagplatz" com cerca de 200 crianças de seu orfanato, as quais ele acompanhou voluntariamente à deportação e à morte.
As cerimônias terminarão com um grande show no antigo bairro do gueto de Varsóvia. É a primeira vez que são organizadas cerimônias para lembrar o extermínio do gueto de Varsóvia. "Até agora, a data de 22 de julho não fazia parte do calendário histórico de Varsóvia", reconheceu Spiewak. Isso se deve, em primeiro lugar, ao fato de durante o regime comunista este aniversário ter sido ofuscado pela grande festa comunista realizada em 22 de julho.
Em segundo lugar, porque a Polônia costuma celebrar outro acontecimento, a Insurreição do Gueto de Varsóvia, no dia 19 de abril. No dia 19 de abril de 1943, quando os alemães decidiram exterminar os últimos moradores do gueto, as organizações judaicas se lançaram em um combate desesperado contra os nazistas. A operação durou um mês. Essa insurreição foi violentamente reprimida e o gueto foi arrasado.
Um ano depois, no dia 1; de agosto de 1944, quando as tropas soviéticas se encontravam perto da capital polonesa, houve a eclosão da Insurreição de Varsóvia, liderada pelo exército secreto AK (membro da resistência polonesa). Este levante durou 63 dias e custou a vida de 18.000 combatentes e de 200.000 civis, resultando na destruição quase total da cidade.