Qousseir - "No dia em que Bashar al-Assad cair, eu o desenharei dentro de um foguete em direção à Lua para que não possa nunca mais voltar", afirma Mazir enquanto assiste pela televisão, junto com seus três amigos, aos duros combates travados em Damasco entre as tropas do regime e os rebeldes.
Como em todas as quintas-feiras, estes sírios se reúnem em uma casa de Al-Bueda, na província de Homs (centro), para preparar os cartazes que os vizinhos das localidades próximas utilizarão nas manifestações de sexta-feira (20/7).
"Cada desenho, cada frase ou cada slogan tem por objetivo ridicularizar Bashar al-Assad e deixá-lo com a imagem de um mentiroso, um assassino, um arrogante. Ele é o rosto visível deste regime que nos massacra e o que queremos é que as pessoas que saem às ruas para pedir liberdade vejam o corpo de um burro e a cabeça de Bashar e riam dele, que deixem de ter medo dele", comenta Mazir enquanto faz os últimos traços de um de seus desenhos.
[SAIBAMAIS]"Nossa arma é nossa inteligência. Eu não sirvo para empunhar uma arma e matar pessoas, cada um tem um papel nesta revolução. Há quem tenha nascido para lutar, outros para pintar, e eu sirvo para pintar e desenhar caricaturas, é nisso que sou bom", comenta Iyman, criador deste pequeno núcleo de artistas que encontraram em seus desenhos e em seus cartazes sua melhor arma contra o regime que os reprime há 16 meses.
"Comecei pintando caricaturas para levá-las às manifestações de sexta-feira para demonstrar minha insatisfação com o regime; as pessoas gostaram e todas as semanas eu levava mais, até que acabou se tornando uma vocação", afirma.
"Bashar, vá embora, depois que te dermos um chute na bunda", escreve sobre um enorme tecido branco apoiado contra uma das paredes da casa.
Para alguns destes jovens, pintar caricaturas ou slogans contra o regime causou a eles graves problemas com a polícia secreta.
"Certa noite, chegaram em minha casa e prenderam meu pai; ficou preso dez dias, durante os quais foi torturado, e tudo porque um vizinho me delatou dizendo que eu era o responsável pelos cartazes das manifestações de sexta-feira", conta Mazir.
"Mas não tenho mais medo. Se tenho que morrer, vai ser sabendo que contribuí para derrubar o regime e trazer a liberdade para todos os sírios", afirma orgulhoso.
Mas nem todos os integrantes deste grupo peculiar têm um discurso tão pacífico.
Ibrahim é membro do Exército Sírio Livre (ESL) e em seus momentos livres prepara, junto com seus amigos, cartazes para as sextas-feiras.
"Fico feliz de pintar e ajudar meus amigos a preparar o material para as manifestações, mas sei que as caricaturas não acabarão com o regime de Bashar al-Assad, as armas farão isso. Violência só se responde com violência", afirma.
Há um mês, duas irmãs de 15 e 23 anos decidiram contribuir para a revolução da única forma que podiam: desenhando. É para mostrar ao mundo a situação da Síria, e que saibam como estão nos matando. É uma mensagem para que as pessoas nos ajudem", afirma Doha, que com apenas 15 anos se tornou um dos rostos mais populares da revolução neste povoado próximo a Homs.
Ao seu lado, Fátima (23 anos) atua como tradutora de sua irmã. Esta jovem síria, professora de inglês, teve a ideia desta iniciativa. "Os jovens se uniram ao ESL para lutar contra o regime, e nós, as mulheres, estamos relegadas a ficar em casa e ver como os matam, então quisemos fornecer nosso grãozinho de areia à revolução", afirma Fátima, encarregada de colorir os desenhos feitos pela pequena Doha a uma velocidade vertiginosa.
"Este desenho critica a falta de liberdade de expressão na Síria, porque até nos livros que estudamos no colégio só encontramos a visão que o regime quer nos dar da realidade. Também lutamos para nos expressarmos livremente", afirma a jovem professora, cujo tio faleceu há poucas semanas em um dos muitos bombardeios que varrem a cidade diariamente.
"A vida dos sírios sempre foi uma tragédia. Há anos vivemos submetidos a um regime que nos reprime e nos proíbe de pensar livremente. E agora, depois de tantos anos, o jugo ao qual estamos submetidos acabou, pode ser curioso porque nos bombardeiam e nos matam sistematicamente, mas agora somos livres para escolher nosso destino", comenta orgulhosa. "Somos livres para morrer".
"Somos filhas deste país, e esta é nossa revanche contra o regime. Bashar mata muita gente e nós não temos armas, mas temos pinturas e com elas lutamos contra o regime", afirma sorridente a jovem Doha.