Mundo

Defensor do porte de armas diz que mataria autor de tragédia nos EUA

Agência France-Presse
postado em 23/07/2012 14:17
Aurora - "Se eu estivesse lá, o teria matado". Essa é a frase recorrente dos defensores do porte de armas, que defendem a tese de que, se houvesse alguém armado no cinema de Aurora, o número de mortos no massacre desencadeado por James Holmes teria sido menor.

"Não acho que o direito de portar armas tenha criado o problema. De fato, se tivesse alguém com uma arma lá, isso poderia ter reduzido o dano. Se eu estivesse lá, teria detido parte do dano", declarou John Oberly, um treinador de rúgbi de 51 anos, que pratica tiro ao alvo. O pensamento de Oberly é compartilhado por muitos comentaristas que defendem a "Segunda Emenda da Constituição", que garante o direito de portar armas. Oberly comentou enquanto comprava munição em uma das muitas lojas de armas de Aurora, um subúrbio de Denver. Localizada entre uma cafeteria e um restaurante mexicano, o lugar tem a aparência de uma loja de departamentos. Dedicada principalmente aos aficionados da caça, com uma decoração marcada por animais empalhados, a loja oferece fuzis, pistolas, munições, trajes e artigos de acampamento.

Uma menina de 5 ou 6 anos experimenta um rifle. "Querida, esse é muito grande para você. Vamos procurar outro", diz a mãe. "Os defensores das armas estão dizendo que, se tivesse alguém (no cinema) portando armas, o massacre não teria ocorrido", afirmou Eileen McCarron, do Colorado Ceasefire Capitol Fund, que defende um maior controle de armas. "O cinema estava no escuro, havia cerca de 200 pessoas dentro e o atacante usou gases. Não havia como outra pessoa armada fazer nada, a não ser matar mais inocentes", argumentou. O debate é um tema constante nos Estados Unidos, que já viveu muitas tragédias parecidas com a de Aurora no passado.

[SAIBAMAIS]Os casos mais conhecidos são o massacre de 1999 em uma escola de Columbine (a 35 km de Aurora), quando dois estudantes mataram 13 pessoas; o da Universidade de Virginia Tech em 2007, quando um homem matou 32; o de uma base militar no Texas, em 2009, onde morreram 13 e o tiroteio de Tucson, em 2011, que feriu a congressista Gabrielle Giffords e matou seis pessoas. A polêmica levantada virou tema do documentário de 2002 "Tiros em Columbine", onde o diretor Michael Moore conclui que uma das causas deste tipo de violência é a facilidade com que armas são compradas no país. Na madrugada de sexta-feira, durante a estreia do novo filme do Batman, um homem - supostamente James Holmes, de 24 anos - matou 12 pessoas e feriu 58. Carregava um rifle e disparou 60 tiros por minuto. Em apenas oito semanas, havia comprado 6.300 cargas de munição.



Comprar armamento "é muito fácil se você não é um criminoso", disse Oberly na loja de armas. "Checam seu nome e você sai da loja com a arma, ou pode comprar pela internet e a recebe pelo correio", contou. Foi comprovado que é necessária apenas a carteira de motorista. Com ela, o vendedor analisa o registro criminal do comprador e, se não aparecem crimes, a venda é fechada em um minuto. Foi assim que Holmes obteve sua munição: quando este controle foi realizado, a única coisa que figurava em seu histórico era uma multa por excesso de velocidade. Tom Mauser é pai de um estudante de 16 anos que morreu em Columbine e, desde então, se converteu em defensor do controle de armas.

"Nós nos ocupamos basicamente dos direitos e do castigo, mas não da prevenção", disse. "O que precisamos nos Estados Unidos é prevenção, porque quando você perde alguém o castigo não significa nada". Em 2003, o Colorado aprovou uma lei que requer que as pessoas obtenham uma permissão para portar consigo armas ocultas. Naquele momento, calculava-se que 60 mil pessoas pediriam esta permissão. Mas atualmente, disse McCarron, "mais de 143 mil a possuem e, após o tiroteio, este número aumentará drasticamente". Um dos perigos citados pelos opositores das armas é que quem as porta pode exercer a lei por conta própria, como ocorreu na Flórida em fevereiro, quando o vigia comunitário George Zimmerman matou Trayvon Martin.

Mas o contra-argumento dos defensores da Segunda Emenda é que um assassino não será detido porque é mais difícil arranjar uma arma. Assim considera o diretor da escola de Columbine, Frank De Angelis, que já ocupava este posto quando ocorreu o massacre. Proibir a venda de armas "não evitará que os criminosos as obtenham (...) Poderemos ter leis contra elas, mas os assassinos seguirão encontrando maneiras de adquiri-las", disse. "Os cidadãos que respeitosos das leis nos Estados Unidos compram armas legalmente e não queremos tirá-los este direito, que está em nossa Constituição", sustentou.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação