Agência France-Presse
postado em 25/07/2012 13:16
Damasco - Aleppo, a segunda maior cidade da Síria e coração econômico do país, era palco nesta quarta-feira (25/7) de uma "batalha decisiva" entre rebeldes e forças do regime, que enviavam reforços como helicópteros após a reconquista quase total de Damasco pelo exército regular.A repressão e os combates deixaram ao menos 108 mortos nesta quarta-feira, sendo 57 civis, 36 soldados e 15 rebeldes, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma ONG radicada na Grã-Bretanha. "Centenas de rebeldes procedentes de todo o norte da Síria estão chegando a Aleppo no que parece ser a batalha decisiva", declarou o correspondente de um jornal sírio na cidade. "Uma dezena de bairros periféricos ainda está nas mãos dos rebeldes e na cidade são ouvidos bombardeios e tiros de armas automáticas", acrescentou o correspondente.
Rami Abdel Rahman, presidente do OSDH, confirmou esta informação. "Nas últimas 48 horas, chegaram reforços do exército sírio pela rota internacional Damasco-Aleppo. Na terça-feira os rebeldes atacaram um comboio militar nesta rota entre Maaret el-Nooman e Kan Sheikhun (ao sul de Aleppo) para atrasar a chegada destes reforços", disse o presidente do OSDH. "Também ocorreu outro ataque em Ariha (sul de Aleppo)", acrescentou Rahman.
Segundo este último, "trata-se de uma batalha decisiva e o regime está enviando reforços para impedir que os rebeldes tomem as sedes dos serviços de segurança do partido Baath (no poder na Síria desde 1963) e edifícios públicos".
Na terça-feira (24/7), os rebeldes do Exército Sírio Livre (ESL) já haviam anunciado grandes mobilizações de tropas da província vizinha de Idleb para Aleppo.
E nesta quarta-feira (25/7), o OSDH informou sobre ataques do exército regular em vários setores da cidade, utilizando principalmente helicópteros que metralharam o bairro de Bustane al-Kasr, onde ocorreram combates que deixaram "vários mortos e feridos", sem dar mais detalhes.
A Casa Branca denunciou o uso de helicópteros de ataque por parte do regime sírio. "O uso de helicópteros constitui outro indício da amplitude da perversidade do regime Assa", afirmou o porta-voz de Barack Obama, Jay Carney.
Outros combates explodiram ao amanhecer em vários setores, principalmente em al-Khamiliyé (centro), perto da sede do partido Baath. Aviões militares voaram sobre a cidade, mas não a bombardearam, afirmou Rahman.
Para o geógrafo Fabrice Balanche, diretor do Grupo de Pesquisa e de Estudos sobre o Mediterrâneo e o Oriente Médio, os bairros nas mãos da oposição são os bairros informais, cuja população vem do campo.
Os bairros do centro e do oeste, onde vivem as classes abastadas, os cristãos e, sobretudo, os cidadãos de origem alepina não estão sob o controle dos rebeldes.
Na região de Aleppo, a cidade rebelde de al-Bab, que o exército regular tenta recuperar, também foi atacada. Segundo um primeiro balanço desta ONG, sete pessoas, entre as quais seis civis, morreram na quarta-feira (25/7) nos combates.
Revolta nas prisões
A contestação, que já se propagou por todo o país, contagiou também as prisões, onde vários motins mobilizam as forças de ordem.
Um dia após o início de um motim na prisão de Aleppo, onde morreram ao menos oito detidos, os serviços aéreos e o exército tentaram em vão retomar o controle da prisão central de Homs (centro), onde os prisioneiros se rebelaram há quase uma semana.
Em Damasco, o exército regular, que tomou novamente o controle da maior parte da capital, parece ter consolidado sua posição, após os ataques de terça-feira nos bairros Qadam e Aassali, dois dos últimos focos de resistência no sul da capital, segundo o OSDH.
Os rebeldes marcaram pontos recentemente ao tomarem o controle de vários postos fronteiriços com Iraque e Turquia. Por sua vez, a Turquia anunciou nesta quarta-feira que fechará por tempo indeterminado suas fronteiras com a Síria por "razões de segurança". Segundo um funcionário turco que não quis se identificar, esta medida é "por tempo indeterminado e a reabertura (das fronteiras) dependerá de como a situação vai evoluir".
A medida envolve os cidadãos turcos, indicou a fonte. Os estrangeiros que desejarem atravessar a fronteira em direção à Síria deverão assinar um documento com informações sobre os perigos que encontrarão, acrescentou.[SAIBAMAIS]
Neste contexto, a metade dos 300 observadores da Organização das Nações Unidas na Síria abandonou o país na terça e nesta quarta-feira, segundo relatos de dois observadores presentes em Damasco. "Cento e cinquenta observadores da ONU abandonaram a Síria na terça-feira e nesta quarta-feira e não vão voltar", afirmou um deles.
Por sua vez, o general Manaf Tlass, o oficial de maior patente a desertar do exército sírio e considerado próximo ao presidente Bashar al-Assad, pediu em sua primeira declaração pública desde sua deserção, em 6 de julho, a união do povo sírio "com o objetivo de construir uma nova Síria".
Execuções sumárias e diálogo
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu nesta quarta-feira à comunidade internacional que detenha a matança na Síria, em um discurso ante o parlamento da Bósnia, um país que viveu um genocídio em 1995. "A Síria coloca à prova a comunidade internacional. Os ecos são ensurdecedores e o país se afunda de forma acelerada na guerra civil (...), com povos e crianças massacrados", afirmou.
Neste sentido, a Anistia Internacional (AI) pediu às forças regulares sírias e aos rebeldes que ponham fim às "execuções sumárias" que, segundo a organização, vem aumentando. Segundo um comunicado, a Anistia dispõe de "informações segundo as quais as forças governamentais e os grupos armados matam de maneira deliberada e ilegal" seus prisioneiros. O AI pede a "todas as partes que respeitem o direito humanitário internacional".
Por fim, o embaixador russo ante a ONU, Vitali Churkin, declarou que seu país está disposto a acolher possíveis contatos em Moscou entre o governo sírio e a oposição com o propósito de favorecer o diálogo. "A Rússia tem a intenção de continuar trabalhando para que sejam tomadas decisões por consenso e pressionar para um diálogo inter-sírio", declarou Churkin durante um debate no Conselho de Segurança.