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"Al-Assad acredita ser Deus", revela ex-amigo em entrevista ao Correio

Rodrigo Craveiro
postado em 30/07/2012 08:04
O sírio Ayman Abdel Nour, 47 anos, conheceu Bashar Al-Assad em 1984, quando o seu país ainda era governado por Hafez Al-Assad. Ambos foram colegas na Universidade de Damasco e frequentaram o mesmo círculo social, três décadas atrás. Quando o amigo ascendeu ao poder, após a morte do pai, Ayman atuou como conselheiro presidencial. Ex-membro do Partido Baath, ele fundou o site All4Syria ; quebrando o monopólio estatal da mídia, em Damasco, em 2003. No ano seguinte, rompeu com Bashar e se exilou nos Estados Unidos. Em entrevista ao Correio, por e-mail, Ayman afirmou que o ex-amigo é megalomaníaco e não descarta o uso de armas químicas por parte do regime. ;Bashar começou a pensar que é Deus em 2002;, declarou.

Como o senhor analisa a liderança de Bashar Al-Assad? Ela ainda teria um futuro consistente?
Bashar Al-Assad lutará até o fim, pois ele pensa que é Deus e que todos os sírios o adoram. Ele crê que as pessoas que protestam não são sírios, mas são pagas pelo emir do Catar e, por isso, deveriam ser mortas. Ele começou a pensar que é Deus na metade de 2002. Esse pensamento agravou-se depois que ele sobreviveu de toda a pressão após o assassinato de (Rafiq) Hariri (ex-primeiro-ministro do Líbano). Ele não tem futuro. Al-Assad pensa que ganhará a guerra contra a oposição e seguirá no poder. No entanto, se os EUA e a comunidade internacional se seduzirem com o dinheiro do Catar para forçá-lo a deixar Damasco, ele partirá para Latakia, com a ajuda dos russos, e formará um Estado alauita.



Com base nos anos de convivência com Al-Assad, o senhor poderia descrever a personalidade do ditador?
Ele passou por três fases. A primeira foi antes de o irmão, Basel, morrer em um acidente automobilístico, em 1994. Nessa fase, ele era muito gentil, tímido, não estava totalmente envolvido com a política, escutava muito e era afável. A segunda fase compreende o período entre a morte de Basel à morte de seu pai (Hafez), em 10 de junho de 2000: nessa etapa, ele foi treinado para ser corajoso, passou a modelar o corpo e ficou menos tímido, fazia várias perguntas, participava de cursos com oficiais e intelectuais, mas ainda era legal e gentil. A terceira fase começou após ele se tornar presidente. Al-Assad era bem ativo e entusiasta de reformas até meados de 2002, quando ele começou a acreditar que era o representante de Deus para comandar a Síria. Ele começou a ficar totalmente desconectado com a realidade, muitos de seus amigos o abandonaram e apenas os oportunistas o cercaram para elogiar as coisas que ele faz. Ele tem duas faces: com uma, ele ri para todas as pessoas; com outra, ele tenta ser legal e trapaceia.

Leia a íntegra da entrevista na edição impressa de hoje do Correio Braziliense

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