Mundo

Apagão gigante põe em dúvida ambição da Índia em se tornar superpotência

Agência France-Presse
postado em 01/08/2012 17:57

Passageiros aguardam sentados a energia elétrica ser restaurada em uma estação de trem em Nova Delhi, em 31 de julho de 2012

Nova Délhi - O apagão gigante que na terça-feira (31/7) deixou a metade da população da Índia sem eletricidade evidenciou as carências das infraestruturas elétricas do país e a necessidade de encontrar novas fontes de fornecimento nesta nação emergente, que sonha em ser uma superpotência.

O superapagão, que começou às 13H00 horas local (07H30 GMT; 04H30 de Brasília) de terça-feira e foi resolvido definitivamente nesta quarta-feira pela manhã, afetou cerca de 600 milhões de pessoas em grande parte do território, desde a fronteira com o Paquistão até o nordeste, próximo à fronteira chinesa, incluindo a capital, Nova Délhi, e as cidades de Calcutá e Lucknow.

Na segunda-feira (30/7), um primeiro apagão já havia afetado 300 milhões de habitantes. Segundo as autoridades, estes dois apagões em pleno verão foram provocados por vários estados que rebaixaram o limite de fornecimento autorizado em suas redes elétricas e desencadearam um efeito dominó.

[SAIBAMAIS]Na Índia, onde a eletricidade provém principalmente do carvão, os apagões são muito frequentes e nas horas de pico a oferta é 12% inferior à demanda, segundo dados do governo.

O grupo público Coal India não tem capacidade para responder a demanda por falta de combustível e de tecnologia moderna, enquanto espera as autorizações para construir novas centrais.

As autoridades têm planos de construção de centrais nucleares, para que a porcentagem de energia nuclear na produção elétrica passe dos 3% atuais para 25% até 2050. Contudo, empresários e analistas dizem que são necessárias reformas urgentes.

"É fundamental que nossas infraestruturas de base" correspondam às aspirações dos agentes econômicos do país, diz o diretor-geral da Confederação Indiana da Indústria, Chandrajit Banerjee.

A fatura da eletricidade


Segundo os analistas, a Índia tem que garantir que as comissões locais de eletricidade de cada estado respeitem suas cotas de consumo ao mesmo tempo em que melhora a rede de distribuição para evitar situações de crise.

O tráfego ao longo de uma estrada de Nova Deli ficou intenso durante o corte de energia elétrica que atingiu a Índia em 31 de julho de 2012

Ainda existe um sistema de sanções para quem ultrapassa o máximo autorizado, mas as multas custam menos que comprar energia no mercado livre e os estados não duvidam em superar o máximo permitido. Por isso, o estado central teria que aumentar o preço da energia no mercado regulado, segundo os analistas.

Os frequentes roubos de energia e as conexões não autorizadas à rede são também um problema muito frequente, que só poderia ser resolvido com importantes investimentos.

Contudo, todas estas medidas aumentariam o preço da eletricidade para o consumidor final, uma decisão que exige vontade política por parte de um governo que já enfrenta o descontentamento popular por causa da forte inflação.

Segundo Seema Desai, uma analista do grupo de pesquisa Eurasia Group, com todas essas medidas a fatura da luz poderia aumentar até 40% em alguns estados.

O apagão gigante voltou a ocupar nesta quarta-feira as páginas da imprensa indiana, que destacava que o orgulho nacional foi ferido. "Índia superpotência. Descanse em paz", dizia a manchete do The Economic, que considera que a imagem da Índia como centro de alta tecnologia recebeu um duro golpe.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação