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Atirador de templo sikh nos EUA tinha elos com grupos de supremacia branca

Agência France-Presse
postado em 06/08/2012 14:51
Membro da comunidade Sikh chora ao receber informações sobre o tiroteio

Oak - As autoridades americanas estão investigando as motivações do suspeito do tiroteio de domingo em um tempo Sikh no Wisconsin (norte), um ex-soldado de 40 anos que, segundo agentes federais, era ligado a grupos defensores da supremacia branca, em mais um episódio de violência que abala os Estados Unidos dias depois do tragédia do Colorado.


O atirador, Wade Michael Page, serviu no Exército americano em operações psicológicas entre abril de 1992 e outubro de 1998 e recebeu várias condecorações por boa conduta, anunciou o Pentágono.

Segundo a agente especial Teresa Carlson, chefe do escritório de investigações da Polícia Federal americana em Milwaukee, o suspeito de 40 anos, morto durante operação policial, é alvo de uma investigação de "terrorismo doméstico". "Estamos analisando vínculos com grupos supremacistas brancos", declarou Carlson durante uma entrevista coletiva à imprensa um dia depois do ataque em que seis pessoas que assistiam a um culto no templo sikh foram mortas a tiros. "Não tínhamos feito uma investigação ativa sobre ele antes de ontem", admitiu a investigadora. "Nenhuma agência das forças da lei tinha qualquer razão para acreditar que ele estivesse planejando algo", argumentou.

"Estamos trabalhando nisto como um possível caso de terrorismo doméstico", acrescentou. "A definição de terrorismo doméstico é o uso de violência para ganhos sociais ou políticos. Claramente, estamos lidando com algo assim", emendou.

Carlson disse que o FBI sempre esteve alerta para a ocorrência de ataques após episódios violentos, como o massacre do Colorado, em 20 de julho, mas destacou que os investigadores não tinham evidências específicas de que qualquer ato violento estivesse sendo planejado.

No domingo, Wade matou seis pessoas em um templo sikh de Oak Creek, na periferia de Milwaukee, apenas 15 dias depois do tiroteio na pré-estreia do filme Batman em um cinema de Aurora, no Colorado (oeste), cometido por James Holmes, 24 anos, que matou 12 pessoas.

Esses dois massacres trouxeram à tona mais uma vez o debate nos Estados Unidos sobre a posse de armas de fogo. O direito de possuir armas está inscrito na Constituição americana.

A este respeito, a Casa Branca, apesar de condenar a matança de domingo, emitiu um comunicado considerando que este to não vai pressionar o governo a adotar novas medidas de controle das armas.

O porta-voz de Barack Obama, Jay Carney, lembrou que a posição do presidente continua sendo a de garantir que aqueles que não são autorizados não tenham armas, ao mesmo tempo em que garante aos demais americanos o direito inscrito na Constituição de possuir armas.

Page, que entrou no Exército com 20 anos e o deixou seis anos depois sem ter realizado operações no exterior, também foi um reputado paraquedista. Ele esteve baseado em Fort Bliss (Texas, sul) e em Fort Bragg (Carolina do Norte, sudoeste).

Como especialista em operações de guerra psicológica, seu trabalho consistia em reunir informação e influenciar as pessoas de forma favorável aos interesses americanos. "Estou verdadeiramente surpreso. Era um cara tranquilo...", declarou um vizinho de Wade Michael Page, John Hoyt. "As únicas coisas negativas que o ouvi falar foram sobre a guerra, sobre a namorada dele e sobre o presidente Bush - Bush filho - porque ele tinha começado uma guerra".

Wade Michael Page também teria assegurado que havia sido enviado duas vezes para o Iraque, o que, de acordo com os dados dos serviços prestados pelo atirador revelados pelo Pentágono, parece improvável: ele entrou para o Exército um ano após o início da primeira Guerra do Golfo, e deixou muito antes da invasão do Iraque pelos Estados Unidos, em 2003.

Hoyt também confirmou ter visto - como testemunhas do tiroteio relataram - uma tatuagem evocando o 11 de Setembro no ombro de Wade Michael Page.

Um ato racista?

Vários veículos da imprensa americana já haviam antecipado que Wade Michael Page seria seguidor das teorias racistas de supremacia da raça branca, uma informação que as autoridades locais e federais não quiseram confirmar a princípio.

No domingo, em fóruns e sites racistas americanos, internautas lamentavam que o massacre praticado em Oak Creek poderia prejudicar a sua causa. "Isso não é nada bom, gente", comentou, após o anúncio do tiroteio, um internauta chamado "Proud White Cap" ("homem branco orgulhoso"), indicou o site especializado SITE.

O Obama declarou que é preciso fazer um exame de consciência sobre como reduzir a violência nos Estados Unidos depois do tiroteio em Wisconsin. Segundo Obama, é preciso se recolher em reflexão caso seja confirmado que o atirador de Wisconsin foi motivado pelo ódio racial. Ele disse ainda que está muito abalado pela tragédia.

Os sikhs, que ostentam turbantes e longas barbas, muitas vezes são confundidos com muçulmanos e são alvos de ataques racistas nos Estados Unidos, especialmente depois do 11 de Setembro. Eles são entre 500.000 a 700.000 no país. Segundo os representantes da Coligação Sikh em Washington, membros da comunidade foram vítimas de racismo 700 vezes desde os atentados de 2001.

A religião sikh, fundada há cinco séculos na Índia, exige que os homens cubram os cabelos - que não podem ser cortados - com um turbante e cultivem a barba.

O ataque de Oak Creek é o pior da história recente realizado contra esta comunidade religiosa, indicou Kavneet Singh, diretor-geral do Fundo Americano de Defesa dos Sikhs.

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