Agência France-Presse
postado em 08/08/2012 18:23
Rafah - "Se o bloqueio continuar, será um desastre", alerta Abu Taha, dono de um dos vários túneis que ligam a Faixa de Gaza ao Egito, e que foram fechados após o recente ataque no Sinai. Para este empresário, esses túneis se tornaram uma lucrativa fonte de renda.No entanto, a situação mudou depois do ataque praticado por um grupo de 30 homens armados no domingo a um posto fronteiriço entre Egito e Israel, controlado pelo Egito, que matou 16 guardas. O grupo foi neutralizado depois pelo Exército israelense perto do terminal Kerem Shalom.
Após esse ataque, as autoridades egípcias decidiram fechar a passagem de Rafah, que liga o Egito à Faixa de Gaza, única passagem entre os dois territórios que não é controlada por Israel.
Também fecharam todos os acessos aos túneis, interrompendo as atividades que se desenvolveram depois que Israel impôs o bloqueio à Faixa Gaza, em 2006.
"Mercadorias e alimentos passam pelos túneis, assim como materiais de construção, e tudo isso vai parar. Vão colocar uma corda em volta do nosso pescoço e Israel ficará alegre", declarou Abu Taha.
Para Abu Mustafa, 34 anos, proprietário de um túnel, através do qual materiais de construção são transportados, o anúncio do fechamento foi uma "grande surpresa".
"Nosso negócio vai fechar, o que irá prejudicar milhares de famílias que possuem túneis, assim como os funcionários", avaliou Mustafa.
"Não somos contra as medidas de segurança tomadas pelos egípcios e pelos palestinos, mas exigimos a reabertura dos túneis, talvez com um pouco mais de controle. Se fecharem os túneis, os habitantes de Gaza vão morrer", acrescentou.
De acordo com funcionários do serviço de segurança palestino, há centenas de túneis em Rafah, que fica na fronteira entre a Faixa de Gaza e o Sinai egípcio.
Omar Shaaban, um economista que dirige o PALThink, um grupo de pesquisa com sede em Gaza, estima em 500 milhões de dólares o volume de negócios gerado pelos túneis. Fechá-los teria um "efeito devastador sobre os habitantes de Gaza", acredita.
"A Faixa de Gaza está acostumada a usar esses túneis como ponto de passagem permanente e todos os setores de atividade dependem deles", disse Shaaban.
Apesar de um suposto abrandamento do bloqueio, Israel mantém um controle rigoroso das importações de Gaza, incluindo a importação de materiais de construção.
Um fechamento prolongado dos túneis provocará a paralisação de construções e deixará 15.000 trabalhadores sem emprego.
"O combustível também passa todos os dias por estes túneis e qualquer atraso na entrega só agrava a crise energética e causa o fechamento das padarias, fábricas e transporte", ressalta Shaaban.
A Faixa de Gaza viveu recentemente uma crise energética grave, mas a situação melhorou muito com a importação de grandes quantidades de combustível a partir do Qatar, via Egito e Israel.
Em pânico, motoristas formam longas filas nos postos de combustível em Gaza.