Agência France-Presse
postado em 10/08/2012 20:34
Assunção - O presidente do Paraguai, Federico Franco, posiciona seu partido Liberal para as eleições de 2013 agitando a bandeira da soberania frente as posições de Brasil e Argentina, que desconhecem a legitimidade de seu governo, ressaltaram analistas."Esta decisão não tem volta. Somos donos de 50% da energia em Itaipu e Yacyretá", disse Franco nesta sexta-feira em uma entrevista coletiva à imprensa, referindo-se ao seu anúncio de que o Paraguai utilizará a metade da energia das represas binacionais sobre o rio Paraná que corresponde ao país, a primeira com o Brasil e a segunda com a Argentina.
"Não vamos usar nossas 10 turbinas em Itaipu da noite para o dia, mas vamos preparar o Paraguai para se tornar um pólo de desenvolvimento", disse o presidente, com o novo tom nacionalista de seus discursos, depois de ter substituído, no dia 22 de junho, o destituído presidente Fernando Lugo.
Embora alguns especialistas considerem que o Paraguai está refletindo sobre sua estratégia de desenvolvimento após o isolamento a que Brasília e Buenos Aires submeteram o governo Franco, um ex-administrador paraguaio de Itaipu denunciou negociações do atual governo com a multinacional Rio Tinto Alcan e classificou de "pseudo-nacionalista" o discurso do presidente.
"Este cenário de tratamento e marginalização de Argentina e Brasil não se via desde a Guerra da Tríplice Aliança (1864/70), apesar de serem os principais beneficiados pelas duas gigantescas represas que compartilham conosco", disse à AFP o ex-chanceler paraguaio Carlos Mateo Balmelli, ligado ao Partido Liberal.
"Esta situação nos faz refletir como nunca fizemos, sobre novas políticas e estratégias que nos sacudam deste secular subdesenvolvimento", acrescentou.
Na quarta-feira passada, Franco declarou: "Quando Brasil e Argentina vão nos respeitar? No dia em que o governo (paraguaio) disser a eles: ;com licença, vamos usar nossa energia. O Paraguai mudou sua posição. Não vai ceder mais sua energia. Nós a usaremos na indústria;", enfatizou o mandatário durante um ato público em Assunção referindo-se às vendas para seus vizinhos de grande parte da energia gerada por essas represas.
Mateo, um diplomata que durante quase dois anos foi diretor de Itaipu durante o governo Lugo (2008/2012), disse que concorda com Franco sobre a necessidade de se estabelecer uma política que acabe com a cessão da energia elétrica "a preço baixo", tanto em Itaipu como em Yacyretá.
[SAIBAMAIS]"A partir de agora, o Paraguai tem que pensar em uma política externa fora do Mercosul, e não mais dentro do Mercosul", disse o diplomata.
"Com esta impressionante quantidade de energia excedente que temos, precisamos estimular a instalação de indústrias para impulsionar o desenvolvimento", ressaltou Mateo.
Para o advogado Aarón Ruiz Díaz, o presidente Franco, com o pouco tempo de governo que tem, "deve estimular a criação de uma comissão multipartidária, técnica e legal para elaborar uma política externa de tempo integral, como o Itamaraty, que preveja essas contingências", como o afastamento do Mercosul.
Na opinião de Gustavo Codas, ex-diretor de Itaipu, substituto de Mateo na direção da represa na época de Lugo, as declarações de Franco representam "uma tentativa de justificar as negociações com a companhia de alumínio Rio Tinto Alcan, para emprestá-la duas turbinas de Itaipu por 20 ou 30 anos a preço irrisório".
Ligado estreitamente ao ex-presidente Lugo, Codas disse Franco não tem as opções que acredita ter diante do Brasil.
"Franco não vai poder fazer nada. No Paraguai não há rede elétrica. Não tem infraestrutura nem os recursos para tê-la. É um discurso para aparecer para o público como nacionalista", disse.