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Combates continuam intensos na Síria após suspensão da Conferência Islâmica

Agência France-Presse
postado em 16/08/2012 15:07
Damasco - Os combates e bombardeios permaneciam intensos nesta quinta-feira (16/8) na Síria, após a suspensão deste país da Organização da Conferência Islâmica (OCI), enquanto o Conselho de Segurança das Nações Unidas ordenou o fim da missão de observadores no país.

Reunidos durante a noite na Arábia Saudita, os líderes do mundo muçulmano chegaram a um acordo sobre "a necessidade de se acabar imediatamente com os atos de violência na Síria e de suspender este país da OCI". Apenas o Irã xiita, principal aliado regional de Damasco, se opôs a esta decisão "injusta" de uma organização majoritariamente sunita.

A decisão foi elogiada pelos Estados Unidos, que a consideraram um sinal "do isolamento crescente do regime de Bashar al-Assad e o amplo apoio ao povo sírio e a sua luta por um estado democrático que represente suas aspirações e respeite os direitos humanos".

No terreno, os insurgentes e as forças armadas continuam travando uma batalha pelo controle de Aleppo. Os bombardeios do Exército fizeram 18 mortos, enquanto oito soldados foram mortos em tiroteios, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

[SAIBAMAIS]A violência na Síria, que já causou mais de 23 mil mortes em 17 meses, provoca o temor de um contágio para o Líbano. Neste país de equilíbrio religioso frágil, dezenas de sírios foram sequestrados por homens armados que exigem a libertação de seus companheiros libaneses xiitas feitos reféns na Síria.

Manifestantes xiitas destruíram na quarta-feira (14/8) bens de sírios e bloquearam a estrada do aeroporto de Beirute. Cinco monarquias árabes do Golfo, a Arábia Saudita, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Qatar e Bahrein, pediram que seus cidadãos deixem imediatamente o Líbano, que já foi palco de uma guerra civil entre 1975 e 1990.

Em Nova York, o Conselho de Segurança das Nações Unidas ordenou nesta quinta-feira (15/8) o fim da missão de observadores da ONU na Síria, mas apoiou a manutenção de um escritório político em Damasco. "As condições para prosseguir com a UNSMIS não foram cumpridas", afirmou o embaixador francês na ONU, Gerard Araud, após uma reunião do Conselho sobre o conflito na Síria. "A missão chegará ao fim à meia-noite de domingo", informou Edmond Mulet, do Departamento de Manutenção da Paz da ONU, à imprensa.

Neste ano, o Conselho de Segurança da ONU autorizou o envio de 300 observadores militares desarmados à Síria para monitorar um cessar-fogo negociado entre o enviado da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, e Bashar al-Assad, presidente da Síria.

Mas as hostilidades cresceram e a Missão de Observação da ONU na Síria suspendeu suas patrulhas no dia 15 de junho.

Nesta quinta-feira, o número de observadores havia caído para 101, além de 72 funcionários civis. Mulet informou que o último observador deve deixar Damasco na sexta-feira da próxima semana.

Em visita a Pequim, Bouthaina Shaaban, enviado especial do presidente sírio, saudou a atitude da China e Rússia, que têm bloqueado qualquer resolução no Conselho de Segurança condenando o regime de Assad.

Já Pequim pediu aos envolvidos no conflito "que estabeleçam rapidamente um cessar-fogo para acabar com a violência e iniciar um diálogo político".

Crise Humanitária

Em Damasco, o presidente sírio nomeou três novos ministros para as pastas de Saúde, Indústria e Justiça, anunciou a televisão estatal, sem informar os motivos dessas mudanças.

Após a suspensão pela OCI, a imprensa síria acusou esta organização islâmica de servir ao "projeto do Ocidente e de seus servos da região, que querem a queda do Estado sírio e um conflito religioso".

Como parte de uma viagem regional, o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, chegou nesta quinta a Beirute, onde não quis se comprometer a armar os rebeldes. A crise na Síria, disse, "no aspecto militar, é da conta dos sírios".

O ministro, que já está na Jordânia, onde visitou um hospital de campanha no campo de refugiados de Zaatari, perto da fronteira com a Síria. "A posição da França é clara: acreditamos que Bashar al-Assad é o carrasco de seu povo, ele tem que sair, e quanto mais cedo, melhor", declarou.

A Jordânia abriga cerca de 150 mil refugiados sírio, o Líbano, 38 mil, e a Turquia, 62 mil. Centenas de pessoas, a maioria mulheres e crianças, tentaram entrar, principalmente a pé, na Turquia, depois de um intenso bombardeio aéreo na quarta-feira em Azaz, uma cidade rebelde de 70 mil habitantes, perto da fronteira turca.

O ataque destruiu dezenas de casas. A organização Human Rights Watch, que também visitou o local, identificou mais de 40 mortos, enquanto uma fonte oficial turca informou que uma centena de vítimas estão sendo tratadas na Turquia e que 15 delas não resistiram aos ferimentos.

Combates e bombardeios também foram identificados nesta quinta em vários locais na Síria. O OSDH relatou 70 mortes, incluindo 42 civis. Na quarta-feira, segundo a mesma fonte, foram 172 mortes.



A diretora das Nações Unidas para assuntos humanitários, Valérie Amos, afirmou que está tentando convencer as autoridades sírias a facilitar o acesso para que atenda mais de um milhão de sírios que estão na indigência. "As pessoas aqui estão sem saída, as padarias estão fechadas e não há mais comida", disse um insurgente do Exército Sírio Livre (ESL), responsável pela distribuição de alimentos em Aleppo.

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