Agência France-Presse
postado em 16/08/2012 17:56
Rankous - Cercado por um grupo de rebeldes, um jovem é empurrado a socos para dentro de uma casa em Rankous (30 km ao norte de Damasco), e Assad, o líder da Brigada local, imediatamente ordena que ele seja levado ao banheiro.
O homem, Ahmad, 23 anos, é acusado de ser um traidor infiltrado nas fileiras rebeldes que tentam há um ano e meio derrubar o regime do presidente Bashar al-Assad.
Com as mãos amarradas atrás das costas, ele foi forçado a se ajoelhar. Seu calvário começa. Assad, apelidado de "o Leão de Rankous", bate em seu rosto. Apenas as lágrimas quebram o silêncio na casa.
O líder para e pede que busquem uma mangueira de plástico. Ele corta um metro e dobra ao meio antes de fechar a porta do banheiro. Poucos minutos depois, um rebelde sai com as roupas do "traidor", jogadas no chão com desdém.
[SAIBAMAIS]A mangueira se tornou um chicote. Na casa é possível escutar a chuva de golpes atrás da porta fechada. Os gritos e lamentos desaparecem gradualmente.
Sem perguntas. Não é necessário ser adivinho para imaginar o que acontece atrás desta parede. Assad só para por um breve momento para insultar e xingar o jovem.
Um dos rebeldes, Mahmoud, explica: "Ele tentou entregar ao Exército Abu Hatab, o chefe da Brigada Aljadra. Ele deveria levá-lo até um posto de controle, onde as tropas do governo o teriam matado. Mas seu jogo deu errado". Nervoso, ele puxa um cigarro antes de concluir: "Se for esperto, ele vai falar".
A sessão dura mais de duas horas sem interrupção. Assad dá lugar a vários de seus homens que, entre dois socos, "interrogam" Ahmad.
A noite cai. É hora do iftar (quebra do jejum do Ramadã). Abu Hatab, o líder rebelde que o "traidor" deveria entregar aos soldados do regime, está presente. "O que você faria no meu lugar?", pergunta. "Na nova Síria, os traidores serão jogados na cadeia, mas, no momento, estamos em guerra..."
Abu Yaffar, irmão de Asad, não se esconde atrás de escrúpulos: "Os traidores, nós matamos. Eles não têm honra. Eles nem sequer conhecem esta palavra. A única coisa que os interessa é o dinheiro".
Asad não aceita a ideia de ter sido enganado pelo jovem: "Ele chegou há três semanas, dizendo que havia desertado das fileiras do Exército regular. Nós o acolhemos como um de nós e ele nos traiu".
O interrogatório recomeça pouco depois. Sempre brutal. Até que dois homens tiram o menino desmaiado do banheiro e o deitam em um colchão no chão da cozinha. Eles juntam os pés e jogam um cobertor sobre o corpo machucado.
Assad vai para a sala de estar no meio de seus homens. "Temos de pensar no que vamos fazer com ele", finge pensar. Seu irmão sugere que eles tentem negociar sua troca por cinquenta rebeldes detidos pelo Exército. Mas ninguém acredita nessa possibilidade.