Agência France-Presse
postado em 18/08/2012 10:03
ALEPPO - Zonas controladas por rebeldes continuavam sendo alvo neste sábado de bombardeios do regime sírio, que desmentiu a deserção de seu vice-presidente, informação anunciada por redes de televisão árabes que citavam rebeldes.O vice-presidente "Faruk al-Shara não pensou em nenhum momento em sair do país", afirmou a rede de televisão pública citando um comunicado de seu gabinete, mas sem mostrar imagens dele. Shara, a personalidade sunita mais proeminente do poder alauita, é um homem de confiança do regime e foi durante quinze anos chefe da diplomacia, antes de se tornar vice-presidente em 2006.
Várias redes de televisão árabes anunciaram sua deserção à Jordânia, citando os insurgentes. Em um comunicado, o comando do Exército Sírio Livre (ESL, rebelde) afirma que, segundo "informações preliminares, teria ocorrido uma tentativa de deserção" que "terminou em fracasso". "Nós não confirmamos nem desmentimos as informações sobre a deserção", assegura o comunicado do ESL.
Ultimamente, o regime sírio é atingido por deserções de membros do alto escalão, como a do primeiro-ministro Riad Hijab ou a do general Manaf Tlass, o oficial do exército de mais alta patente a ter abandonado o regime, e que era amigo de infância do presidente Bashar al-Assad. Segundo o comunicado de seu gabinete, o vice-presidente Shara saudou a nomeação, na véspera, do novo mediador internacional para a Síria, Lakhdar Brahimi.
Shara é favorável a "uma posição unificada do Conselho de Segurança da ONU para que (Brahimi) possa realizar sua possível missão sem obstáculos", afirma a nota. Brahimi, de 78 anos, substitui no cargo Kofi Annan, que apresentou sua renúncia diante do fracasso de seu plano de paz. Esta nomeação foi feita um dia após o Conselho de Segurança ordenar, na quinta-feira, o fim da missão de observadores da ONU na Síria, diante da falta de acordo dos países para por fim a um conflito que não para de se agravar.
[SAIBAMAIS]Mas o novo enviado das Nações Unidas e da Liga Árabe para a Síria disse ter pouca confiança que se possa acabar com a guerra civil no país árabe. "Acredito que vou colocar todos os meus esforços, vou fazer o máximo possível", declarou à rede de televisão France 24. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu um apoio internacional "forte, claro e unificado" a Brahimi.
A China, país aliado de Damasco, e os Estados Unidos, que pedem a renúncia de Bashar al-Assad, também prometeram apoiar Brahimi. A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, fez o mesmo, diante da "imensa tarefa que o espera". A Rússia saudou a nomeação de Brahimi, com a esperança de que retome o plano de paz de Annan e o acordo de Genebra, que propunha uma transição política no país.
Os rebeldes continuam exigindo, além de armas, uma zona de exclusão aérea como a implementada na Líbia, mas o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, declarou-se contra esta ideia, em uma entrevista que será divulgada neste sábado na Sky News Arabia.
Moscou é o aliado mais forte do regime sírio e utilizou seu poder de veto em três ocasiões, junto a Pequim, contra resoluções do Conselho de Segurança que incluíam ameaças de sanções contra Damasco. Enquanto isso, no campo de batalha a violência prossegue. A cidade de Azaz, situada na província de Aleppo, foi bombardeada neste sábado pela aviação do regime, informou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma ONG que se apoia em uma rede de militantes e testemunhas. Além disso, bairros de Aleppo, palco há um mês de uma batalha crucial entre os rebeldes e o regime, estavam sendo bombardeados, e eram registrados combates em outros setores.
A cidade de Hirak, na província de Deraa (sul), era o alvo de fortes bombardeios, e em Homs, onde os rebeldes continuam controlando vários bairros, o setor de Khaldiyé estava sendo bombardeado, o que deixou um morto entre os civis.
Por sua vez, segundo a agência nacional libanesa, três sírios foram sequestrados neste sábado por quatro homens na estrada que leva ao aeroporto internacional de Beirute. Este anúncio ocorre três dias depois que um clã xiita anunciou o sequestro de cerca de vinte sírios e de um turco em represália pelo sequestro de um membro de sua família reivindicado por um grupo rebelde sírio. A embaixada dos Estados Unidos em Beirute pediu na sexta-feira precaução aos seus cidadãos no Líbano.