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Sírios recorrem ao humor para enfrentar o drama diário da violência

Agência France-Presse
postado em 20/08/2012 11:50
Beirute - O humor se converteu na Síria em arma para enfrentar a trágica realidade de um conflito sangrento que em 17 meses deixou dezenas de milhares de vítimas e provocou danos irreparáveis.

Centenas de piadas e brincadeiras informam sobre as dificuldades da vida diária - desemprego, miséria, falta de dinheiro - e sobre as outras facetas do conflito, como os bombardeios ou as deserções no exército. Em uma das tantas piadas que circulam pela Síria, um homem brinca com um foguete e um amigo o adverte: "cuidado, pode explodir". "Não se preocupe, o exército vai disparar outros", responde. Os moradores de Homs, tradicionalmente alvos de brincadeiras por sua aparente falta de jeito e ingenuidade, resistiram tenazmente à repressão do regime, a tal ponto de a cidade ser considerada "capital da revolução".

A suposta ingenuidade dos habitantes de Homs confunde as autoridades, já que cada vez que impõem o toque de recolher, os vizinhos saem às ruas para "observá-lo", como exige o decreto. Esta cidade do centro da Síria também tem fama de conservadora. Um casal decide viajar a Aleppo, no norte, quando a cidade, onde há algumas semanas ocorrem violentos combates, ainda estava calma. Passeiam pela cidade sem ouvir explosões nem ver manifestações, razão pela qual ao fim de duas horas o homem diz a sua mulher: "pode tirar o véu, não há homens nesta cidade".

Mas, sobretudo, são as deserções, cada vez mais frequentes e numerosas, as que desencadeiam o humor dos militantes, que dizem que Bashar al-Assad obriga seu vice-presidente sunita, Faruk al-Shara, a dormir com ele por medo que fuja e obriga sua esposa Asma a dormir no sofá. Uma caricatura mostra Assad enumerando seus títulos e todos os ministérios que decidiu liderar. "Ao menos assim não temos que temer a deserção de meus ministros", diz Assad. Em outra caricatura, um ministro presta juramento dizendo: "juro que não desertarei".

[SAIBAMAIS]A fuga do primeiro-ministro Riad Hijab obrigou a alfândega jordaniana a modificar os postos fronteiriços, onde além da fila de "jordanianos, árabes e diplomatas, há ainda a de funcionários sírios desertores". A deserção do general Manaf Tlass, membro da oligarquia governante que se instalou em Paris, fez os manifestantes rirem. Um deles carregava em um cartaz a seguinte informação: "A brigada Charles de Gaulle, sob o comando do general Tlass, tomou após uma sangrenta luta o controle da avenida Champs Elysees".



A miséria e as dificuldades também inspiram o humor dos sírios, convencidos de que nos recentes Jogos Olímpicos de Londres teriam conquistado a medalha de ouro na "subida de cinco andares de escada com uma garrafa de gás no ombro". Outra piada evoca um homem que chega feliz em casa com uma galinha para o jantar, mas sua mulher lembra que eles não têm faca paga degolá-la nem gás para cozinhá-la.

Quando a galinha ouve isso, começa a cacarejar "Viva Bashar! Viva Bashar".

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