Agência France-Presse
postado em 20/08/2012 14:41
Aleppo - Confrontos sangrentos atingiram o berço da revolta na Síria nesta segunda-feira (20/8), enquanto rebeldes resistiam bravamente a uma investida do regime iniciada na cidade chave de Aleppo há um mês, afirmaram ativistas.Ao menos 44 pessoas foram mortas, incluindo duas crianças, em um bombardeio em Deraa, o berço da revolução no sul da Síria, afirmou uma organização de direitos humanos, enquanto as Nações Unidas encerraram sua problemática missão de observação no país.
O novo enviado internacional da ONU e da Liga Árabe para a Síria, Lakhdar Brahimi, que disse não estar confiante de que será capaz de restaurar a paz no país, alertou no domingo que agora era uma questão de colocar fim, ao invés de evitar uma guerra civil, após 17 meses de derramamento de sangue, o que gerou uma resposta negativa de Damasco.
O Observatório Sírio dos Direitos Humanos informou sobre o prosseguimento dos confrontos no segundo dia do Eid al-Fitr, o feriado celebrado por muçulmanos ao redor do mundo para marcar o fim do mês sagrado do Ramadã.
Ele explicou que os confrontos explodiram entre os rebeldes e as tropas do governo em Deraa depois que várias áreas foram bombardeadas, matando 15 pessoas, incluindo duas crianças.
Forças governamentais utilizando helicópteros de combate, tanques e artilharia pesada também realizavam ataques "selvagens" em Herak, informou o Conselho Nacional Sírio, da oposição, alertando para uma catástrofe humanitária, enquanto os fornecedores de alimentos e remédios deixam a região.
Confrontos também foram registrados em algumas partes do sul de Damasco, em meio às tentativas do exército de prosseguir com seus ataques contra os bolsões de resistência, apesar de ter alegado que retomou a maior parte da capital no mês passado.
O Observatório afirmou ainda que as tropas apoiadas por helicópteros também atacaram várias áreas da cidade de Aleppo, incluindo o bairro de Salahedin, onde ocorre grande parte das operações militares do regime contra os rebeldes.
A capital comercial surgiu como o epicentro do conflito desde que os rebeldes conquistaram grandes áreas da cidade em uma ofensiva lançada no dia 20 de julho. Autoridades do governo afirmaram que esta será a "mãe de todas as batalhas."
Confrontos também foram registrados perto do tribunal militar da cidade e da sede local do partido governante, Baath, disse a ONG.
A violência implacável não impediu que manifestantes tomassem as ruas da capital e de outras cidades no domingo para demonstrar a sua raiva contra o presidente Bashar al-Assad, que fez uma rara aparição pública para as orações do Eid.
-- Missão de observação da ONU termina --
Observadores da ONU encerraram sua agitada missão à meia-noite de domingo, em meio a uma falha das grandes potências para responder à repressão de Assad e para levar paz ao estratégico Estado do Oriente Médio.
Criada por uma resolução do Conselho de Segurança aprovada em abril, a equipe de cerca de 300 observadores foi mobilizada progressivamente como parte do plano de seis pontos do então enviado da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, para terminar o conflito.
Muitas de suas operações em campo foram suspensas em junho e seu número foi reduzido diante da crescente violência, em meio às ações de ambos os lados, que violaram o cessar-fogo, supostamente a pedra angular do plano de Annan.
O fim da missão ocorreu poucos dias após o veterano diplomata argelino Brahimi ser nomeado para substituir Annan.
"Uma guerra civil é o tipo de conflito mais cruel, quando um vizinho mata o seu vizinho e às vezes seu irmão, é o pior dos conflitos", afirmou Brahimi à rede de televisão France 24.
"Muitas pessoas dizem que devemos evitar a guerra civil na Síria, mas eu acredito que já estamos nela há algum tempo agora. O que é necessário é acabar com a guerra civil e isso não vai ser fácil", disse.
As declarações de Brahimi geraram uma forte resposta da Síria, que afirmou nesta segunda-feira (20/8) que "falar de guerra civil é contrário à realidade", segundo um comunicado do ministério das Relações Exteriores do país.
"O que ocorre em terra são crimes terroristas contra o povo sírio realizado por grupos armados salafistas apoiados por países conhecidos", acrescentou.
Brahimi deve se reunir com o presidente francês, François Hollande, nesta segunda-feira para discutir o conflito.
Assad, da minoria alauita, uma ramificação do islamismo xiita, caracterizou o conflito como uma batalha contra um complô "terrorista" estrangeiro auxiliado pelo Ocidente e por seus aliados na região, liderados pela potência muçulmana sunita Arábia Saudita.
Mas ele foi atingido por uma série de deserções e por especulações de que mais funcionários de alto escalão planejavam abandonar o regime.
A Síria negou no domingo que o chanceler Walid Muallem tenha anunciado no Twitter que substituiu o vice-presidente Faruq al-Shara, depois de especulações sobre o seu destino.
A agência oficial Sana afirmou que a informação era falsa e que Muallem não tem uma conta no Twitter.
A rede de televisão síria negou na semana passada informações da oposição de que Shara havia desertado, enquanto um ex-ministro que fugiu no início do ano afirmou que ele estava sob prisão domiciliar.
A Jordânia informou que quatro foguetes disparados da vizinha Síria caíram dentro de sua fronteira norte, ferindo uma menina de quatro anos, o que gerou uma carta de protesto para Damasco.[SAIBAMAIS]
O conflito tem levantado temores de um alastramento para países vizinhos, que estão abrigando centenas de milhares de refugiados que fugiram pela fronteira para Iraque, Jordânia, Líbano e Turquia.
As Nações Unidas também advertiram para uma crise humanitária com mais de um milhão de pessoas deslocadas no interior da Síria e até 2,5 milhões precisando de ajuda.
Enquanto isso, o Vaticano afirmou que a visita do papa Bento XVI planejada para o Líbano no próximo mês está confirmada, apesar das tensões ligadas ao conflito na Síria, incluindo uma onda de sequestros em massa.