Damasco- O Exército sírio intensificou nesta quarta-feira seus ataques contra os rebeldes em Damasco e Aleppo (norte), enquanto o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, anunciou que fará uma viagem ao Irã no final de agosto para discutir o conflito na Síria.
Frente ao bloqueio diplomático, o secretário-geral da ONU decidiu, apesar do descontentamento Washington, visitar Teerã no fim de agosto, em ocasião da cúpula dos Países Não-Alinhados, para abordar, sobretudo, o conflito sírio, anunciou nesta quarta-feira seu porta-voz.
Pelo menos 115 pessoas foram mortas em episódios de violência nesta quarta, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Em Damasco, as tropas sírias lançaram uma grande ofensiva em Kafar Soussé e em suas imediações, apoiadas por helicópteros e de artilharia pesada, causando a morte de ao menos 24 pessoas, indicou o OSDH.
Em Doummar, perto da capital, um atentado com carro-bomba matou três pessoas, disse o OSDH.
Combates intensos foram registrados nos bairros de Tadamoun e Jobar. As autoridades haviam afirmado há algumas semanas que tinham retomado o controle de toda a capital e caçado os rebeldes.
O OSDH também informou sobre a descoberta de dezenas de cadáveres de pessoas assassinadas a tiros no bairro de Qaboun (sul).
A organização denunciara pouco antes a morte de 42 civis em Maadamiyat al-Sham, a 6 km de Damasco, muitos deles vítimas de execuções sumárias.
O registro pode piorar, já que o Exército abriu fogo contra um cortejo fúnebre nesta cidade de 200.000 habitantes onde convivem cristãos, sunitas e alauitas.
"Crime brutal"
O Conselho Nacional Sírio (CNS), principal coalizão opositora, denunciou, por sua vez, um "crime brutal" em Maadamiyat al-Sham, localidade "devastada", onde os moradores precisam com urgência de ajuda médica e humanitária.
O CNS também pediu que o comissário de Direitos Humanos da ONU investigue esse fato e solicitou uma reunião urgente da Liga Árabe sobre os "crimes de guerra" do regime.
Em Aleppo, a aviação do governo bombardeou os bairros rebeldes da grande metrópole do norte da Síria, onde há um mês insurgentes impõem uma feroz resistência às tropas regulares.
O Exército disparou obuses em bairros do leste da cidade e combates eram registrados em vários outros setores, segundo o OSDH. Na véspera, Exército e rebelião haviam indicado avanços em Aleppo.
Os rebeldes afirmaram nesta quarta-feira que haviam tomado o controle de vários setores da cidade de Boukamal, perto da fronteira com o Iraque, indicou o OSDH.
As cidades de Homs (centro), de Idleb (noroeste) e de Deraa (sul), onde os rebeldes continuam a resistir, não são mais atingidas pelos ataques aéreos e terrestres.
Em outro episódio de violência, um jornalista do jornal oficial Techrine, Moussab al-Odallah, que era partidário da oposição, foi morto em casa em Damasco, segundo seus parentes.
"Discutir francamente a Síria"
Enquanto as divisões da comunidade internacional impedem uma solução diplomática, o secretário-geral da l;ONU, Ban Ki-moon, decidiu ir a Teerã, aliado importante de Damasco, no final de agosto para "discutir francamente" o conflito na Síria. Essas divisões impedem também a criação de campos de refugiados na Síria, considerou a responsável por questões humanitárias da ONU, Valerie Amos.
Seu porta-voz acrescentou que Ban considera que o Irã deve fazer parte da solução para este conflito, enquanto os Estados Unidos, que o haviam aconselhado a não viajar a Teerã, acusaram o Irã de ser "um país que viola todos os tipos de regras da ONU e que exerce uma força desestabilizadora".
O presidente francês, François Hollande, e o emir do Qatar, xeque Hamad Ben Khalifa Al-Thani, decidiram, durante um encontro em Paris, coordenar seus esforços por uma "transição política" em Damasco.
Hollande, em "total concordância" com o primeiro-ministro britânico, David Cameron, ressaltou o compromisso da França em dar um apoio efetivo à oposição síria, "incluindo no terreno".
"Quanto mais rápido Assad sair, mais teremos chances de passar rapidamente para o ;dia seguinte;", para uma transição, indicou o Departamento de Estado americano.
O conflito sírio ameaça cada vez mais se propagar para o Líbano, onde, de acordo com fontes médicas e de segurança, nove pessoas foram mortas e 84 ficaram feridas desde segunda-feira em Trípoli, cidade do norte do país sacudida por combates ligados ao conflito na vizinha Síria.
Nesta quarta-feira à tarde, um cessar-fogo foi decretado após uma reunião de personalidades em Trípoli, mas nove pessoas ficaram feridas em tiroteios esporádicos, que prosseguiam no início da noite, segundo fontes dos serviços de segurança. Uma pessoa ferida de manhã não resistiu aos ferimentos.
As Nações Unidas pediram que a comunidade internacional apoie mais o Líbano frente aos riscos de desestabilização relacionados ao conflito sírio.
Os enfrentamentos armados entre partidários e opositores do presidente Assad no Líbano deixam clara a necessidade de uma ação internacional, declarou ao Conselho de Segurança o responsável pelas questões políticas na ONU, Jeffrey Feltman.
"Enquanto a crise na Síria piora, a situação no Líbano se torna precária e a necessidade de um apoio internacional ao governo e às Forças Armadas libanesas é cada vez maior", declarou Feltman durante uma reunião sobre o Oriente Médio.
"As tensões internas e ligadas à segurança permanecem fortes e podem ser facilmente exacerbadas pelos eventos sírios", acrescentou.