Agência France-Presse
postado em 23/08/2012 19:27
Damasco - O Exército sírio recuperou nesta quinta-feira (23/8) os bairros cristãos do centro de Aleppo controlados pelos rebeldes, após dois dias de intensas lutas, enquanto os combates causam estragos em outras áreas da metrópole do norte da Síria, em Damasco e em seus arredores.Os insurgentes, que tomaram o controle de uma parte dos bairros cristãos de Aleppo, foram expulsos de Telal, Khdeidé e Sleimaniyé.
"Os combates na madrugada de terça-feira foram muito violentos e duraram muitas horas antes de o Exército conseguir expulsar os rebeldes e deter dezenas" deles, acrescentou.
Desde o início da revolta contra o regime, em março de 2011, uma grande parte do clero cristão, com medo de que os islamitas assumam o poder, manifestou o seu apoio ao presidente Bashar al-Assad.
Outros bairros de Aleppo, como Sakhour, Tarik al-Bab, Boustane al-Qasr e Al-Shaar foram bombardeados com artilharia pesada, segundo militantes. Também foram registrados combates no bairro de Salaheddine, principal reduto rebelde, informou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
Rebeldes infiltrados no Exército
Exército e rebelião afirmaram ter avançado em Aleppo. Um funcionário de segurança alertou para "uma longa guerra".
"O Exército tenta estabelecer áreas de segurança", ou seja, dividir os bairros em vários setores, tomando o controle das principais ruas com homens e tanques para depois "limpar cada área", segundo uma fonte de segurança.
Sete quilômetros ao sul de Damasco, soldados e rebeldes se enfrentavam em violentos combates perto de Daraya, onde uma mãe e seus quatro filhos morreram, segundo o OSDH.
A cidade vive um intenso bombardeio com obuses disparados pelos tanques mobilizados em seus arredores, indicou o OSDH.
Também foram registrados combates no bairro de Hajar al-Aswad, submetido a bombardeios do Exército.
[SAIBAMAIS]"Há fortes combates em vários setores de Damasco e sua periferia", explicou à AFP por Skype Samara, uma opositora do regime que mora na capital síria.
Em alguns setores, "as forças do regime praticam execuções sumárias, e destroem as casas dos opositores para esmagar a revolta de uma vez por todas", disse o presidente do OSDH, Rami Abdel Rahman.
Daraya está sendo bombardeada por dois dias, segundo Abu Kinan, outro ativista que se opõe ao governo, descrevendo uma situação "trágica".
Mas, segundo um comandante rebelde que se apresenta como Selim, os rebeldes de Damasco podem contar com "colaboradores" dentro do Exército, que "transmitem informações sobre (seus) movimentos".
Segundo um registro provisório do OSDH, nesta quinta 111 pessoas morreram em todo o país (71 civis, 31 soldados e nove rebeldes). Dezenove cadáveres foram encontrados em Damasco e em suas imediações.
Mais de 24.000 mortos em 17 meses
Desde o início do movimento de protesto, em março de 2011, que se intensificou com a repressão do regime, mais de 24.000 pessoas morreram, incluindo mais de 17.000 civis, de acordo com a última contagem apresentada pelo OSDH. Em 15 dias, mais de mil pessoas morreram.
"É uma vergonha que a comunidade internacional permaneça dividida sobre a Síria, negligenciando as provas sobre a amplitude e a gravidade das violações dos direitos humanos, enquanto os civis estão pagando o preço", afirma a Anistia Internacional em um comunicado.
As divisões entre o campo russo-iraniano-chinês, que apoia o regime de Assad, e o dos ocidentais e diversos países árabes, que querem a sua queda, impedem a resolução do conflito e também uma ajuda humanitária melhor para os refugiados, segundo a ONU.
A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, anunciaram em Berlim que insistirão "para que o Conselho de Segurança da ONU tome as decisões necessárias e para que o diálogo internacional avance, sobretudo em relação à situação humanitária".
O Conselho de Segurança realizará no dia 30 de agosto, em Nova York, uma reunião ministerial sobre a ajuda humanitária à Síria.
A França indicou que o estabelecimento de uma zona de exclusão aérea em parte do território sírio também merece ser estudado.
O vice-ministro das Relações Exteriores sírio, Faysal Meqdad, anunciou que a Síria vai cooperar com o novo emissário internacional Lakhdar Brahimi para iniciar "um diálogo nacional" de maneira rápida.
Vendo na "ingerência estrangeira" a "principal" causa da crise, Meqdad pediu a Brahimi que "desempenhe um papel ativo" com "as partes que não querem a solução da crise, em particular, as que armam e financiam os terroristas", termo utilizado pelo regime para se referir aos rebeldes.
O vice-ministro acusou a Turquia de "fornecer a esses terroristas, incluindo os da Al-Qaeda, um acesso livre à Síria".