Agência France-Presse
postado em 04/09/2012 19:01
Bogotá - O processo de paz entre o governo da Colômbia e a guerrilha das Farc terá início na primeira quinzena de outubro em Oslo e depois prosseguirá em Havana, anunciou nesta terça-feira (4/9) o presidente Juan Manuel Santos em um discurso à nação.Santos ressaltou que as conversações terão um prazo. "Será medido em meses, não em anos", frisou.
Cerca de uma hora depois, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia confirmaram em Havana o início das negociações, por meio uma mensagem gravada de seu líder Timoleón León Jiménez (Timochenko).
A mensagem anuncia "o encerramento das conversas exploratórias e o início das negociações como parte do árduo, mas necessário caminho da construção da paz, estável e duradoura para a Colômbia", disse o Comandante Mauricio Jaramillo, ao lado de outras cinco pessoas, no Palácio de Convenções de Havana.
A delegação das Farc no encontro exploratório, integrada por Jaramillo, Andrés Paris, Ernest Aguilar, Sandra Ramírez e Marcos León, marcou uma entrevista coletiva à imprensa para quinta-feira às 10h00 locais (11h00 de Brasília) no mesmo local, sem dar maiores detalhes.
Anteriormente, o presidente havia afirmado que as primeiras negociações exploratórias foram realizadas durante seis meses em Havana e que as duas partes assinaram um acordo de princípio que não estabelece que as operações militares serão interrompidas durante o processo de paz.
Segundo o presidente, "as operações militares continuarão com a mesma ou com mais intensidade".
"Este acordo não é já a paz, nem se trata de um acordo final. É um mapa do caminho com precisão dos termos de discussão para chegar a este acordo final", explicou.
"Trabalhamos com seriedade, e devo reconhecer que as Farc também. Tudo o que foi acertado até agora tem sido respeitado. Se as Farc abordarem a fase seguinte com a mesma seriedade, temos boas perspectivas", acrescentou.
Em seu discurso, Santos pede aos colombianos "moderação" diante da possibilidade de a guerrilha prosseguir em seus ataques, e "unidade para que o sonho de viver em paz se torne, por fim, realidade".
O governo norueguês confirmou o desejo de ajudar as partes a chegarem a um acordo para que o conflito chegue ao fim.
"É preciso coragem para buscar a paz. Queria saudar as partes por terem iniciado um diálogo que poderá pôr um fim ao longo conflito armado na Colômbia", declarou o ministro norueguês de Relações Exteriores, Jonas Gahr Stoere.
[SAIBAMAIS]"Visto que as partes solicitaram a assistência da Noruega com vistas a chegar a uma solução pacífica, expressamos nossa vontade de ajudar", acrescentou Stoere, em um comunicado.
"Na fase em que se preparam para entrar, (governo e rebeldes) enfrentarão importantes desafios. Compartilhamos as esperanças do povo colombiano de que uma solução pacífica esteja ao nosso alcance", disse Stoere em Oslo. "A Noruega fará todo o possível para continuar ajudando as partes no futuro", acrescentou.
Anfitrião do Nobel da Paz, o país escandinavo fez da resolução pacífica dos conflitos um pilar de sua democracia, como ilustram as mediações entre Israel e os palestinos, nas Filipinas e em Sri Lanka.
Em uma rápida reação ao anúncio, o presidente americano, Barack Obama saudou Juan Manuel Santos por ter organizado estas negociações de paz com as Farc, o mais antigo grupo guerrilheiro em atividade no país.
"O governo Santos demonstrou um compromisso firme com a busca de uma paz duradoura e em assegurar vida melhor para todos os colombianos através de suas políticas de segurança e inclusão social", afirmou o presidente, que disputará a reeleição nas eleições de 6 de novembro.
Em um comunicado divulgado pela Casa Branca, Obama reafirmou o apoio de Washington à Colômbia e expressou sua confiança de que as conversas serão um avanço para o fim da mais longa guerra civil em curso na América Latina.
"A conclusão deste marco para as negociações por parte do governo colombiano estabelece o cenário para conversas que encerram a promessa de pôr um fim ao conflito com as Farc, que já dura 50 anos", destacou o comunicado.
"As Farc agora devem aproveitar esta oportunidade para encerrar décadas de terrorismo e narcotráfico e permitir que o povo colombiano continue a construir uma sociedade democrática, próspera e justa", acrescentou.