Agência France-Presse
postado em 04/09/2012 21:21
Caracas - As advertências do presidente Hugo Chávez de que, se a oposição chegar ao poder, terá início na Venezuela um período de desestabilização que poderá causar "uma guerra civil" foram feitas para atrair os indecisos a um mês das eleições, consideram analistas.O mandatário, que está há quase 14 anos no poder e tentará prolongar o seu mandato por mais seis anos em 7 de outubro, advertiu em diversas oportunidades que um hipotético governo opositor eliminará, entre outras conquistas de seu governo, os programas sociais de alimentação, saúde e habitação, pilares de sua "revolução socialista".
O plano da oposição tem um "pacotaço neoliberal oculto" que "pretende retroceder a uma Venezuela que já não resistiria a isto e entraria novamente em um nefasto cenário, em uma profunda instabilidade (...) que nos aproximaria da guerra civil", ameaçou Chávez, 58 anos, em entrevista à Unión Radio.
O presidente do instituto de pesquisas Datanálisis, Luis Vicente León, considera que essas advertências são mais "uma questão política do que um risco real (de guerra civil), uma jogada de pôquer que o presidente Chávez coloca sobre a mesa para deixar o eleitor independente com medo e receber seu volto".
";Se Chávez não vencer, será o caos, se Chávez não vencer, haverá uma guerra civil, se Chávez não vencer, haverá um golpe de Estado;. O presidente está incorporando um custo à decisão de votar pelo (candidato opositor Henrique) Capriles: um país em guerra, em convulsão", explica León.
A maior parte das pesquisas, muito díspares na Venezuela, segue dando a Chávez uma cômoda vantagem de entre 10 e 20 pontos percentuais diante de Capriles, embora com uma margem mais estreita do que em consultas anteriores.
Além disso, indicam um elevado percentual para aqueles que não votam nem em um nem em outro, um vasto e crucial grupo integrado por eleitores indecisos, pelos que pretendem se abster e, inclusive, por aqueles que já escolheram, mas podem mudar de opinião.
"A intenção de Chávez é inibir o voto em Capriles", ex-governador do populoso estado de Miranda (norte), que conta com o apoio de uma coalizão de partidos opositores, considera a analista política Mariana Bacalao, professora da Universidade Central da Venezuela.
Para León, que calcula que os indecisos possam chegar a 30% dos 19 milhões de venezuelanos convocados às urnas, o presidente busca "amedrontar" aqueles que preferem a paz à mudança.
"Se isso funciona ou não, não sei. Mas há uma parte dos eleitores que não quer conflito. Se Chávez os convencer de que, se perder, vai haver conflito, isso poderá ser um fator importante para ele", afirmou.
Segundo Bacalao, a resposta de Capriles aos ataques de Chávez tem sido reiterar que manterá os programas sociais e "deixar claro que não é verdade que sem o presidente Chávez os auxílios vãoi acabar".
A analista Carmen Beatriz Fernández, presidente da consultoria DataStrategia, diz que Chávez está utilizando esta "estratégia do medo" para evitar perder seus próprios eleitores.
"Ele já tinha feito isso antes, por exemplo, nas eleições legislativas de 2010. Mas agora o faz com maior contundência, porque se deu conta de que já não está tão confortável como antes" (nas pesquisas), acrescenta Fernández.
Fernández ressalta que Chávez tenta trazer de volta o fantasma do passado, ao identificar Capriles com os partidos Copei e Ação Democrática, que hoje o apoiam e que dividiram o poder durante 40 anos até o mandatário chegar à Presidência, em 1998.