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Mediador internacional denuncia assombroso número de vítimas na Síria

Agência France-Presse
postado em 05/09/2012 16:55

Damasco - O novo mediador da ONU e da Liga Árabe na Síria, Lakhdar Brahimi, denunciou o "assombroso" número de vítimas no conflito entre rebeldes e as forças do regime do Bashar al-Assad, onde prosseguiam os bombardeios em Aleppo.

A crise vai completar 18 meses no dia 15 de setembro, sem nenhuma perspectiva de solução, com um regime decidido a esmagar a rebelião, insurgentes que exigem a saída de Assad, além das divisões internacionais entre Rússia e China de um lado e as potências ocidentais, árabes e Turquia do outro.

"O balanço de perdas humanas é assombroso, as destruições alcançam proporções catastróficas e o sofrimento da população é imenso", disse Brahimi em seu primeiro discurso na Assembleia Geral da ONU desde o início oficial de sua missão, no sábado.

"A situação não para de piorar", completou, antes de considerar "indispensável" o "apoio da comunidade internacional", com a condição de "que todos os esforços sigam no mesmo sentido".

"O futuro da Síria será determinado por seu povo e por ninguém mais", destacou Brahimi, que não citou a saída de Assad desde que foi nomeado como mediador da ONU e da Liga Árabe para substituir Kofi Annan.

Brahimi anunciou visitas nos próximos dias ao Cairo e Damasco para sondar a Liga Árabe e as autoridades sírias sobre suas intenções e estabelecer as bases da missão.

O presidente egípcio, Mohamed Morsi, defendeu nesta quarta-feira uma mudança de regime em Damasco e o primeiro-ministro turco, Recep Tayip Erdogan, acusou o país de ter virado um "Estado terrorista", mas a China rejeitou qualquer pressão sobre o regime, apesar de ter manifestado simpatia a uma "transição política".

Violência sem trégua

Apesar dos discursos, a violência não dá trégua no país.

Nesta quarta-feira, pelo menos 90 pessoas, entre elas 64 civis e seis rebeldes, morreram nos combates e bombardeios, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que recebe os dados de uma ampla rede de militantes.

Em Aleppo, segunda maior cidade do país e ponto estratégico na região norte, 32 pessoas, incluindo sete crianças, morreram nos bombardeios contra os bairros rebeldes, segundo o OSDH.

Os insurgentes resistem aos avanços do Exército, que deseja tomar o controle da cidade e cerca vários bairros, nos quais a população sofre com a falta de material de primeira necessidade.

Na região leste, o aeroporto militar da cidade de Bukamal foi cenário de duros combates. Os rebeldes perderam seis homens, mas controlam grandes partes da localidade, segundo o OSDH.

A violência também afetou Idleb (noroeste), Homs (centro), Deraa e bairros de Damasco e de sua província, segundo os militantes.

Ban Ki-moon critica Conselho de Segurança

O Secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, criticou severamente nesta quinta-feira a "paralisia" do Conselho de Segurança em relação à Síria, afirmando que isso prejudica a população síria e a credibilidade da ONU.

"A paralisia do Conselho afeta a população síria e afeta também sua própria credibilidade", afirmou Ban durante um debate na Assembleia Geral sobre a responsabilidade da ONU na proteção de populações civis contra genocídios e crimes de guerra.

"Não podemos desviar o olhar quando uma crescente violência sectária escapa do controle, onde a emergência humanitária se agrava e onde a crise transcende as fronteiras da Síria", disse ainda.

Ki-moon também criticou os países que entregam armas aos beligerantes e fez um pedido de solidariedade internacional para financiar a ajuda humanitária.

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), mais de 100.000 sírios buscaram refúgio nos países vizinhos em agosto, "o maior número mensal desde o início do conflito" em março 2011.

[SAIBAMAIS]No total, 235.000 sírios fugiram do país e 1,2 milhão foram deslocados no país de 22 milhões de habitantes.



De acordo com o OSDH, mais de 26.000 pessoas morreram desde o início da revolta desencadeada por um protesto popular pacífico, que virou confronto militar em resposta à repressão do regime. A ONU cita 20.000 mortos.

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