Mundo

Rússia quer usar Apec para reforçar sua presença no território asiático

Agência France-Presse
postado em 05/09/2012 20:21

Vladivostok - A Rússia, que organiza pela primeira vez uma reunião do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec) em seu território, tenta fazer do encontro uma maneira de reforçar sua presença no extremo oriente, aproveitando-se também da crise europeia para expandir seu território de atuação.

"A parte da Rússia no comércio total da região (Ásia-Pacífico) está no momento em torno de 1%. Isso não corresponde em absoluto ao perfil político nem aos interesses econômicos da Rússia", disse recentemente em uma coletiva de imprensa uma Guennadi Ovechko, embaixador da Rússia na Apec.

Tal dado é um paradoxo, uma vez que o país conta com grandes recursos energéticos e matérias-primas, que tanto necessitam seus vizinhos asiáticos, com China à frente.

Contudo, durante muito tempo, Moscou preferiu focar na Europa, seu principal sócio comercial, e deu respaldo a essa região, considerando inclusive a alguns vizinhos, como China, como uma ameaça.

O primeiro-ministro russo, Dimitri Medvedev, inclusive se alarmou recentemente pelo fluxo sem precedentes de imigrantes procedentes dos países limítrofes, em uma clara alusão aos trabalhadores chineses.

As dificuldades econômicas dos países ocidentais estes últimos anos têm feito com que o poder russo tome consciência de que é indispensável e que reequilibre sua política ao leste.

Agora, "o ritmo de crescimento econômico da Rússia vai depender destes países da Apec", um clube que agrupa 21 países da bacia do Pacífico, entre eles Estados Unidos, China e Japão, além de Chile, Peru e México, disse nesta quinta-feira o ministro russo de Finanças, Anton Siluanov.

"Mudança de imagem"
A partir de agora, a "Rússia vai tentar utilizar a reunião da Apec para alterar sua imagem e mostrar-se não só como um país europeu, mas sim como um país da Ásia-Pacífico", disse Vassili Mijeev, especialista do Instituto de Economia Mundial e de Relações Internacionais (Imemo).

Nesta perspectiva, as autoridades russas elegeram a ilha de Ruski, ao lado de Vladivostok, a 7 mil km de Moscou, para abrigar este acontecimento, o que parecia uma decisão no mínimo arriscada inicialmente.

A cidade portuária, proibida aos estrangeiros na época soviética e depois abandonada nos anos que se seguiram à queda da União Soviética, carecia há pouco tempo de infraestruturas tão básicas como instalações de tratamento.

Ante estas sérias limitações, muitos responsáveis aconselharam ao presidente Vladimir Putin que organizasse este evento internacional em Moscou ou em San Petersburgo.

Contudo, "uma reunião em Vladivostok é uma eleição simbólica", disse Dimitri Trenin, do Instituto Carnegie. "É uma prova da vontade no sentido de melhorar o nível de vida nos confins orientais russos", disse.

Com esse meta, as autoridades russas têm investido mais de 20 bilhões dólares na construção de pontes, um aeroporto e rodovias, em um projeto destinado a tornar mais atrativo o extremo oriental para os próprios russos e tentar de reprovar esta região que sofre desde os anos 1990 um êxodo massivo da população até a parte europeia do país, em busca de melhores condições de vida.

Outro grande sinal do interesse pela região é que Putin, de volta ao Kremlin em maio, criou um novo Ministério, dedicado exclusivamente ao desenvolvimento do extremo oriente russo.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação