Síria - Rebeldes sírios executaram pelo menos 20 soldados em Aleppo no fim de semana passado, em um novo capítulo do conflito na Síria, onde a violência ganha em intensidade a cada dia. Neste contexto, o novo mediador internacional, Lakhdar Brahimi, iniciou nesta segunda-feira (10/9) sua missão de paz no Cairo, sede da Liga Árabe, reconhecendo que tem uma tarefa "muito difícil".
Paralelamente, a capital egípcia recebe uma reunião preparatória do grupo de contato sobre a Síria, na presença de representantes de Irã, aliado de Damasco, Egito, Arábia Saudita e Turquia, que exigem a saída do poder de Bashar Al-Assad. Em Aleppo, segunda maior cidade do país envolvida desde 20 de julho em uma batalha considerada crucial, ao menos 20 soldados foram executados sumariamente no fim de semana, indicou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
"Estes soldados foram capturados no quartel de Hanano na sexta-feira ou sábado pelos rebeldes e executados em outro local. Tinham as mãos atadas e os olhos vendados", afirmou o presidente da ONG com sede na Grã-Bretanha.
Um vídeo divulgado pelo OSDH mostra 20 homens deitados em uma rua, com as cabeças ensanguentadas. Ao lado dos corpos aparecem homens armados, com roupas civis ou de uniforme, que fazem o sinal da vitória. "Deus é maior" grita um deles, enquanto um outro xinga as vítimas. Segundo um novo relatório da comissão de investigação da ONU divulgado em 15 de agosto, as forças governamentais sírias e suas milícias cometeram crimes de guerra e contra a Humanidade, enquanto a oposição armada cometeu crimes de guerra, mas em menor escala.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, fez nesta segunda-feira um apelo no Conselho de Direitos Humanos da ONU para que os autores de "crimes de guerra" na Síria sejam julgados, enquanto a alta comissária para os direitos humanos, Navi Pillay, pediu uma investigação sobre o massacre de Daraya.
"Sem direito a recusar ajuda ao povo sírio"
Em Aleppo, os rebeldes tomaram na sexta-feira o controle parcial de um quartel militar em Hanano, de onde tinham sido expulsos após violentos confrontos com o Exército. Os combatentes do Exército Sírio Livre (ESL, rebeldes) afirmaram que o quartel estava vazio e que foi bombardeado por pelo menos sete tanques na tentativa das forças do governo de impedir o acesso dos insurgentes às armas que poderiam estar armazenadas.
A força aérea continua a metralhar vários bairros rebeldes, na sequência de um ataque contra edifícios residenciais executado pelas forças leais ao regime que matou 28 pessoas, segundo o OSDH. Pouco antes das 15h00, dois MiGs lançaram duas bombas e metralharam a região, observaram jornalistas.
Perto de Damasco, a artilharia pesada do Exército teve como alvo Sayeda Zeinab, local de peregrinação xiita. Intensos combates e bombardeios foram registrados em Deraa (sul), Idleb (noroeste), Hama e Homs (centro) e na província de Damasco, indicou a ONG, que relatou 95 mortes nesta segunda-feira, entre eles 63 civis, de acordo com uma contagem preliminar, após a morte de 160 pessoas no domingo.
"Sei que esta é uma missão muito difícil, mas acho que não tenho o direito de recusar assistência ao povo sírio", disse o novo emissário Brahimi, após uma reunião com o secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al-Arabi. Ele acrescentou que planeja viajar à Síria "nos próximos dias". Brahimi, que assumiu o cargo em 1; de setembro após a renúncia de seu antecessor, Kofi Annan, também se reunirá com o presidente egípcio, Mohamed Mursi.
Chegar a um consenso
Enquanto isso, uma primeira reunião do grupo de contato proposta pelo presidente Mursi deve ser realizada "na noite desta segunda-feira com os vice-ministros das Relações Exteriores dos quatro países" (Egito, Irã, Arábia Saudita e Turquia), disse o chanceler do Egito, Mohammed Kamel Amr.
O Cairo indicou que o Egito vai tentar chegar a um consenso sobre o "fim imediato dos assassinatos e da violência" e "a necessidade de lançar um processo político, com a participação dos vários componentes do povo sírio". Teerã enviou seu vice-ministro das Relações Exteriores ao Cairo, enquanto Damasco afirmou na sexta-feira que o presidente egípcio tinha "assinado a sentença de morte" do grupo de contato ao criticar o regime sírio.
Até agora, o Irã descartou esforços diplomáticos para tentar encontrar uma solução para a crise, principalmente do "Grupo de Trabalho sobre a Síria", envolvendo os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, a Turquia e os representantes dos países da Liga Árabe.
[SAIBAMAIS]A Rússia, aliada de Damasco ao lado de Irã e China, propôs a seus sócios ocidentais la realização de uma conferência com "todos os atores do conflito" sírio, com a participação de representantes da oposição, do regime e dasdiferentes comunidades, segundo indicou o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Mikhail Bogdanov, ao jornal francês Le Figaro.
Ainda nesta segunda-feira, o general sírio Manaf Tlass, militar desertor de mais alta patente, afirmou a uma rede de televisão francesa que os serviços secretos da França o tiraram da Síria. Tlass disse também que é contra "qualquer intervenção estrangeira na Síria".