Santiago - As manifestações pelo aniversário do golpe de Estado que levou o ditador Augusto Pinochet ao poder voltou a mergulhar o Chile numa noite de distúrbios, que deixaram um policial morto e 255 detidos.
O policial Cristián Martínez foi morto enquanto tentava impedir que uma loja fosse saqueada pela população de Parinacota, no norte de Santiago, área onde os moradores entraram em confronto com a polícia durante a madrugada.
O presidente Sebatian Piñera também informou que o dia de violência, habitual nesta data, deixou outros 16 policiais feridos, dois deles com gravidade, além de uma criança ferida a tiro. Foram registrados centenas de feridos em tumultos em vários locais de Santiago.
Todos os anos, no dia 11 de setembro, são registrados no Chile incidentes em bairros da periferia de Santiago, onde os moradores travaram uma dura luta contra a ditadura de Pinochet, que derrubou o governo socialista de Salvador Allende e chegou ao fim em 11 de março de 1990, deixando mais de 3.000 pessoas mortas.
Em Parinacota, os manifestantes ergueram barricadas incendiárias, saquearam estabelecimentos comerciais e enfrentaram a polícia. Nos distúrbios, foram queimados cinco ônibus e quatro veículos particulares. Houve ataques também à rede elétrica, que deixaram grande parte da cidade às escuras.
"Vemos com preocupação o número de jovens que ontem saíram às ruas, refletido na quantidade de jovens detidos. Quero aos pais desses jovens que tenham responsabilidade", afirmou o subsecretário do Interior, Rodrigo Ubilla.
Segundo as autoridades, esta última noite registrou um aumento no nível de violência, principalmente pelo uso indiscriminado de armas.
Como sempre, a polícia preparou uma operação especial destinada a evitar os confrontos que costumam a eclodir nos bairros periféricos da capital.
Como precaução, os estabelecimentos de ensino, grande parte do comércio e dos estabelecimentos públicos fecharam suas portas mais cedo para antecipar a volta para casa.
Transcorridos 39 anos desde o golpe que derrubou o governo socialista de Salvador Allende, sua comemoração hoje não estaria ligada a fatores ideológicos, e sim à frustração e à revolta em um país que conta com um dos maiores níveis de desigualdade do planeta, em que milhares continuam vivendo em guetos localizados na periferia de Santiago, segundo os analistas.
"O 11 de setembro, para muitos de nós, é um dia triste; foi um momento trágico para o Chile, uma ruptura institucional. É impressionante que 39 anos depois continuem ocorrendo incidentes nas ruas. Acho que isso reflete a revolta que ainda persiste em nossa sociedade", explica, por sua vez, o senador socialista, Juan Pablo Letelier.
Na véspera, no mesmo dia em que se completava 39 anos de sua morte, a justiça chilena encerrou a investigação sobre a morte e Allende, com a confirmação de suicídio.
Em uma decisão unânime, o Tribunal de Apelações de Santiago decretou o fim do inquérito judicial aberto há dois anos, confirmando o suicídio de Allende cometido com uma arma que dada a ele por seu amigo, o ex-líder cubano Fidel Castro, disse uma fonte judicial à AFP.
De acordo com a investigação judicial, Allende morreu pouco antes do meio-dia do dia 11 de setembro de 1973, em meio ao bombardeio aéreo e terrestre do palácio presidencial de La Moneda por parte das forças golpistas comandadas por Pinochet.
[SAIBAMAIS]Allende, o primeiro marxista a chegar ao poder no Chile pelo voto popular, apoiou seu AK-47 sob o queixo e disparou dois tiros que levaram a sua morte, de acordo com a perícia.
Alguns de seus partidários afirmaram por anos que Allende havia sido assassinado por militares que invadiram o palácio, onde permaneceu entrincheirado junto com vários colaboradores, por causa da rejeição em se entregar às forças golpistas.
A morte de Allende foi lembrada por várias organizações de esquerda, que depositaram coroas de flores em uma porta do palácio presidencial, por onde costumava entrar o ex-presidente e no monumento em sua homenagem diante da casa de Governo, no centro de Santiago.
Já Pinochet foi julgado por casos de violações dos direitos humanos e enriquecimento ilícito, mas morreu em 10 de dezembro de 2006 sem ser condenado.