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Farc anunciam equipe com perfil político para negociar a paz nesta sexta

Agência France-Presse
postado em 14/09/2012 18:40

Bogotá - A guerrilha colombiana das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) anunciaram nesta sexta-feira (14/9) sua equipe de delegados para o processo de paz, com um perfil marcadamente político e de experiência negociadora, insistindo em pedir como delegado seu comandante Simón Trinidad, preso nos Estados Unidos.

Integram a equipe Iván Márquez, número dois da guerrilha, ao lado de Marcos Calarcá, Andrés París, Simón Trinidad e Ricardo Téllez, cujo nome de batismo é Rodrigo Granda, informou o próprio Calarcá em entrevista por telefone de Havana.

Este grupo principal será acompanhado dos comandantes Jesús Santrich, Hermes Aguilar, Rubén Zamora e Bernardo Salcedo, como assessores.

Embora Trinidad cumpra pena nos Estados Unidos, Calarcá destacou que sua participação na mesa "será discutida assim que forem iniciados os diálogos" no próximo 8 de outubro, em Oslo.

As conversações serão realizadas posteriormente em Havana sobre uma agenda já acertada nos últimos seis meses, que inclui o conflito rural, o narcotráfico, as garantias para a participação política e o abandono das armas.

Essas nomeações foram apresentadas depois do anúncio feito na semana passada pelo presidente Juan Manuel Santos de seus representantes no processo de paz, o quarto celebrado com as Farc desde os anos 1980.

A equipe de governo é chefiada pelo ex-vice-presidente Humberto de la Calle e integrada, ainda, pelo presidente da Associação de Industriais, Luis Carlos Villegas; pelo ex-comandantes das Forças Militares, general da reserva Jorge Mora; pelo ex-diretor da polícia geral da reserva Óscar Naranjo; pelo ex-ministro do Ambiente e ex-comissário de paz, Frank Pearl, e pelo assessor presidencial Sergio Jaramillo, que foi nomeado como comissário para a paz.

"Os delegados das Farc são pessoas que têm experiência negociadora. A princípio, estão representados todos os matizes das Farc", comentou à AFP o historiador Medófilo Medina, que conheceu pessoalmente vários altos comandantes da guerrilha e os encorajou publicamente a iniciar um diálogo de paz.

"Márquez e París são considerados rígidos e é bom que estejam ali, assim como o general Mora está na equipe de governo. É com estes setores que se verá, na hora da verdade, até onde chega a aposta da paz. Se forem escolhidos apenas os mais acessíveis, o processo se torna irreal", avaliou Medina.

Márquez, de 57 anos, foi negociador nos diálogos de paz de Caracas (Venezuela) e Tlaxcala (México) com o governo de César Gaviria, entre 1991 e 1992, e participou dos de San Vicente del Caguán (sudeste da Colômbia), com o governo de Andrés Pastrana (1998-2002).

Com uma longa estada no México, Calarcá é encarregado das relações internacionais das Farc na América Latina. "Tem uma visão cosmopolita, o que é útil em um negociador", afirmou Medina.

[SAIBAMAIS]Rodrigo Granda, às vezes chamado de "o chanceler das Farc", e Andrés París viveram na Venezuela e nenhum dos dois se destaca no campo militar.

Trinidad, cujo nome verdadeiro é Ricardo Palmera, de 62 anos, cumpre nos Estados Unidos pena de 60 anos de prisão pelo sequestro de três americanos na Colômbia.

A insistência da guerrilha para que seja um de seus porta-vozes principais é uma "mensagem simbólica" na qual se questiona o papel dos Estados Unidos no conflito interno da Colômbia, avaliou Luis Eduardo Celis, pesquisador da Corporação Novo Arco Íris, ONG especializada no conflito armado no país.

"Do ponto de vista legal, Trinidad não tem chance alguma de sair da prisão. As Farc o nomeiam com muito cálculo e sua nomeação desafia os Estados Unidos", disse Celis à AFP.

Medina concorda. "É uma forma de lembrar aos Estados Unidos que está neste processo de paz porque teve a ver com a guerra", disse.

Nos últimos dez anos, os de mais reveses para as Farc, Bogotá recebeu US$ 8 bilhões em ajuda de Washington para o combate ao narcotráfico e às guerrilhas, por meio do Plano Colômbia.

Fundadas em 1964 e contando com 9.200 combatentes atualmente, as Farc são a guerrilha mais antiga da América Latina.

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