Islamabad - O governo paquistanês se distanciou neste domingo da iniciativa de um ministro que ofereceu uma recompensa pela morte do diretor do filme anti-Islã "A inocência dos muçulmanos", produzido nos Estados Unidos, que ainda gera manifestações de revolta no mundo muçulmano.
"Não é uma política do governo. Nós nos dissociamos totalmente disso", declarou à AFP um porta-voz do primeiro-ministro, Raja Pervez Ashraf, ao se referir aos 100.000 dólares oferecidos pelo ministro paquistanês das Ferrovias, Ghulam Ahmed Bilur, a qualquer um que matasse o produtor desse filme.
[SAIBAMAIS]O ministro havia feito essas declarações no sábado em Peshawar, o noroeste do país. "Peço também que os talibãs e os irmãos da Al-Qaeda participem desta nobre ação", acrescentou, afirmando que, se tivesse a oportunidade, mataria o diretor do filme com suas próprias mãos. "Depois, podem me enforcar", concluiu.
O suposto autor do filme é Nakula Besseley Nakula, um copta (cristão do Egito) de 55 anos, morador de Cerritos, próximo a Los Angeles, que está escondido há vários dias devido às ameaças contra a sua vida.
O Paquistão foi um dos principais focos de violência contra esse filme no mundo muçulmano. Na sexta-feira, após as orações, manifestações de cerca de 45.000 pessoas registraram confrontos entre manifestantes e a polícia, deixando 21 mortos e mais de 200 feridos.
Novas manifestações foram realizadas neste domingo no Paquistão. Cerca de 200 membros da comunidade cristã se reuniram para condenar o filme em Islamabad. Protestos também foram realizados em Lahore (leste), Karachi e Quetta.
Os Estados Unidos divulgaram esta semana anúncios publicitários no Paquistão condenando "A inocência dos muçulmanos", ressaltando que o governo nada teve a ver com esse filme amador.
O Paquistão bloqueou o acesso ao YouTube, onde o filme foi exibido.
O filme, assim como as caricaturas do profeta Maomé divulgadas por uma revista satírica francesa, continuava a causar manifestações nos países muçulmanos.
Centenas de xiitas protestaram sem incidentes contra o filme no leste da Arábia Saudita, segundo testemunhas. Foi a primeira manifestação do tipo neste país, onde manifestações, em geral, são proibidas. As forças de ordem não intervieram.
Cerca de 400 pessoas participaram de um protesto diante da embaixada da França em Teerã para denunciar o filme e as caricaturas publicadas pela revista francesa Charlie Hebdo.
"Morte aos Estados Unidos", "Morte a Israel", "Morte ao Reino Unido" e "Morte à França", gritavam os manifestantes, mantidos à distância da embaixada por policiais, indicaram testemunhas à AFP. Nenhum ato de violência foi registrado.
Milhares de partidários do movimento armado Hezbollah se manifestaram em Hermel, leste do Líbano.
Em Jerusalém Oriental, uma palestina tentou atacar com uma faca um policial israelense durante o protesto contra o filme, mas foi imobilizada, segundo a Polícia.
Em Bangladesh, a maior parte das escolas e lojas permaneceu fechada devido a uma convocação de greve geral lançada pelos partidos da oposição em protesto contra o filme.
Vários partidos islamitas, aliados do principal partido oposicionista, convocaram uma greve contra "A inocência dos muçulmanos" e também contra a publicação das caricaturas pela Charlie Hebdo.
Em Atenas, houve incidentes entre policiais e cerca de mil manifestantes compostos, em sua maioria, por imigrantes paquistaneses, afegãos e bengaleses. Os confrontos começaram quando manifestantes tentaram romper um cordão da polícia para tentar chegar à embaixada americana, cercada pela polícia.
"Morte aos Estados Unidos", "Morte à França", clamavam os cartazes exibidos durante um protesto reunindo centenas de pessoas em Istambul. A polícia bloqueou o acesso à representação diplomática francesa.
No total, cinquenta pessoas morreram no mundo em episódios de violência ligados ao filme anti-Islã, desde 11 de setembro.