Agência France-Presse
postado em 24/09/2012 18:45
Nova York - O emissário da ONU e da Liga Árabe, Lakhdar Brahimi, traçou diante do Conselho de Segurança uma imagem obscura do conflito na Síria, na véspera da abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas. Mais de 120 chefes de Estado, primeiros-ministros e ministros devem participar da 67; Assembleia Geral.Apesar do bloqueio do Conselho de Segurança sobre a Síria em razão da oposição de Pequim e Moscou à sanções contra Damasco, o conflito sírio, que já provocou a morte de 29.000 pessoas em 18 meses, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), será um dos focos da assembleia. Nesta segunda-feira (24/9), Brahimi reportou ao Conselho os resultados de sua recente visita à Síria, durante a qual se reuniu com o presidente Bashar al-Assad. Segundo diplomatas presentes na reunião, o emissário declarou aos 15 países membros do Conselho que o regime sírio estima em 5.000 o número de estrangeiros que aderiram aos combates e que retrata a guerra civil como "uma conspiração estrangeira".
Ele reiterou que não há, por enquanto, "um novo plano de ação" para resolver a crise síria. Ao se referir à proposta de seis pontos de Kofi Annan, seu antecessor, Brahimi ressaltou que o plano Annan continua sendo "o bom caminho" a ser seguido, acrescentou o diplomata.
O ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, também declarou à imprensa que o plano Annan continua sendo válido "em sua essência". "Nós temos um plano, é o plano de seis pontos adotado pelo Conselho de Segurança", declarou, acrescentando que a Alemanha "apoia o trabalho de Brahimi". A Alemanha "vai continuar a tentar obter uma posição unificada do Conselho e o início de um processo político" na Síria, acrescentou Westerwelle.
1,5 milhão de pessoas fugiram de suas casas
Ao Conselho, Brahimi afirmou que a tortura de prisioneiros se tornou um hábito e que os sírios temem ir para os hospitais, que estão em poder das forças do regime. De acordo com o mediador, 1,5 milhão de pessoas fugiram de suas casas e o país tem enfrentado a escassez de alimentos porque as plantações foram destruídas pelos combates entre rebeldes e o Exército regular.
Nesta segunda-feira, pelo menos 7 crianças morreram em ataques aéreos e em disparos de artilharia efetuados pelas tropas regulares sírias. No total, 76 pessoas morreram em todo o país, incluindo 44 civis, segundo um registro provisório do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
A aviação do regime de Bashar al-Assad bombardeou o centro de Aleppo, matando pelo menos cinco pessoas, inclunido três crianças de uma mesma família, e causando danos em prédios, de acordo com o OSDH. Um vídeo postado no Youtube mostra as ruínas de um edifício completamente destruído em que os militantes afirmam que viviam "famílias inteiras".
Diante de um hospital do leste da cidade, alvo de vários ataques aéreos nos últimos dias, pelo menos três corpos estavam cobertos com mortalhas, enquanto vários combatentes recebiam cuidados médicos, constatou uma jornalista. "Eles bombardeiam os edifícios que estão na frente deles para terem visibilidade e poderem atacar o hospital na próxima vez", explicou um paciente do hospital. Segundo um correspondente, os combates chegaram à principal praça da cidade, a de Saadalah al-Jabri.
O OSDH, que denuncia 29.000 mortes desde o início dos protestos contra Bashar al-Assad, em meados de março de 2011, estima que haja entre as baixas mais de 2.000 crianças. A ONU indicou "casos de crianças impedidas de entrar nos hospitais, meninos e meninas mortos nos bombardeios de seus bairros e submetidos a torturas, incluindo violência sexual". Os combates e os bombardeios também sacudiram em Damasco os bairros de Deir Ezzor (leste), Homs, Hama (centro) e de Deraa (sul), indicou o OSDH.
Regiões inteiras do norte da Síria, próximo à fronteira turca, já não estão sob controle do regime de Damasco, algumas há meses. Os rebeldes tentam conectar todas as regiões em seu domínio, com o objetivo de criar o que poderia se tornar uma "zona liberada", apoiada pela Turquia.
No sábado (22/9), os rebeldes do Exército Sírio Livre (ESL) transferiram seu comando central da Turquia para uma região da Síria. Em Damasco, cerca de vinte partidos da oposição tolerada pelo regime e ligada à Rússia pediram novamente o fim dos combates e que as partes em conflito participem de uma conferência internacional para instaurar um regime "democrático" e "pluralista".