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Presidente mexicano tenta estreitar laços com América Latina durante viagem

Agência France-Presse
postado em 25/09/2012 06:03
México - O presidente eleito do México, Enrique Peña Nieto, volta nesta terça-feira (25/9) de sua primeira viagem ao exterior, dedicada a estreitar os laços com a América Latina, relegada na agenda de política externa mexicana durante os doze anos de governo do conservador Partido da Ação Nacional (PAN).

O giro começou há uma semana na Guatemala e terminou no Peru, após escalas em Colômbia, Brasil, Chile e Argentina, onde Peña Nieto insistiu na necessidade de recompor os vínculos, especialmente por meio do aumento do comércio e da cooperação contra o crime organizado.

Além disso, o presidente eleito defendeu a busca de uma solução para os litígios de seu país com Brasília e Buenos Aires devido à suspensão de acordos no comércio de automóveis que beneficiavam a indústria mexicana.

"Peña tenta reeditar o discurso tradicional do Partido Revolucionário Institucional (PRI) de que o México foi líder na região no passado, como um país respeitado pela solidez de suas posições em política externa, e que tudo isso foi perdido quando o PAN chegou ao poder", afirmou Jorge Chabat, pesquisador do Centro de Pesquisa e Docência Econômica (Cide, sigla em espanhol).



[SAIBAMAIS]Com Peña Nieto, o PRI retornará em 1; de dezembro à Presidência mexicana, na qual se manteve entre 1929 e 2000, após doze anos de governos do conservador Partido Ação Nacional (PAN).

"Há uma percepção de que o México podia ter sido mais presente na América Latina na última década", ressaltou à imprensa Emilio Lozoya, assessor para assuntos internacionais de Peña Nieto e candidato a ocupar a pasta do Ministério das Relações Exteriores.

O PAN tirou o PRI do poder com Vicente Fox (2000-2006), que durante o seu governo manteve uma relação conturbada com Cuba -depois de ter sido o único país da região a não ter rompido relações diplomáticas com o regime comunista- e com a Venezuela, situação que seu sucessor Felipe Calderón tentou mudar. O empenho de Calderón em privilegiar o combate às drogas o levou a buscar uma aproximação maior com Washington.

Lozoya explicou que, mais do que recuperar a liderança de uma região que aprendeu a falar com voz própria nos últimos anos em fóruns internacionais, o México deve promover novas alianças na América Latina, baseadas no comércio e em interesses comuns.

O assessor também afirmou que há a necessidade de aprender com experiências de países como Brasil e Colômbia, que usaram capital privado para revitalizar o setor petroleiro. "Há uma agenda concreta em matéria comercial para facilitar o comércio, e é preciso ampliar essa avenida. Mas há, por outro lado, casos bem sucedidos na região com os quais podemos aprender para fazermos uma receita própria", afirmou.

Na contramão de seu partido, que já defendeu como conquista histórica a nacionalização da indústria petroleira, Peña Nieto -advogado de 46 anos que governou o estado de México (o mais populoso do país)- se disse disposto a explorar alternativas para injetar na estatal Petróleos Mexicanos (Pemex) os recursos para recuperar sua fraca produção. A produção da Pemex, que gera 40% da receita fiscal do país, caiu de 3,3 a 2,5 milhões de barris diários na última década.

Uma política como a seguida pelos últimos governos do Brasil, com a capitalização da Petrobras, poderia ser uma alternativa, ressaltam especialistas. Para o especialista, no entanto, a grande mudança poderá ser a ampliação dos mercados externos do país. O México tem desde 1994 um acordo de livre comércio com Estados Unidos e Canadá.

Cerca de 80% das trocas comerciais do México são realizadas com os Estados Unidos, para onde exporta anualmente mais de 238 bilhões de dólares, enquanto na América Latina seus principais sócios são Brasil, com 3,78 bilhões (1,08%); Colômbia, com 3,76 bilhões (1,06%); e Chile, com 1,863 bilhões (0,46%). "Historicamente, o México teve níveis de intercâmbio muito baixos com a América Latina, embora a retórica oficial nos diga recorrentemente que são nossos aliados naturais", ressalta o pesquisador.

Lozoya também acredita que o aumento das trocas comerciais com a região pode ter consequências benéficas para o México. "O desenvolvimento de complementaridades econômicas entre os países da região pode gerar milhões de empregos", destacou.

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