Aleppo - Os combatentes rebeldes sírios lançaram na tarde desta quinta-feira (27/9) um ataque decisivo para tomar o controle da cidade de Aleppo, a grande cidade do norte do país palco de uma sangrenta batalha que já dura dois meses.
À margem da Assembleia Geral da ONU em Nova York, os Estados Unidos pediram ao Conselho de Segurança "que tente mais uma vez" chegar a um acordo para acabar com o conflito, enquanto o chefe da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, lamentou as desavenças nessa instância, entre os que apoiam a saída do presidente Bashar al-Assad e os defensores de seu regime.
"Esta noite, ou Aleppo será nossa ou seremos derrotados", afirmou à AFP Abu Fourat, um oficial desertor e um dos chefes da brigada rebelde Al-Tawhid, a maior da cidade.
A AFP viu rebeldes se reunindo em escolas do bairro de Izaa, no norte desta cidade, e disparando obuses de morteiro, enquanto trocavam palavras de incentivo por ;walkie-talkies;.
Em um vídeo postado no YouTube em nome da Brigada al-Tawhid, intitulado "Anúncio do início da batalha decisiva de Aleppo", um homem com um walkie-talkie declara: "Hoje, o ataque contra o Exército de Assad começou em todas as frentes (...) Se Deus permitir, a batalha de Aleppo será decisiva".
Ele dá, em seguida, as instruções: "Aqueles que forem feitos prisioneiros, não mataremos, vamos desarmar e entregar ao Comitê de Segurança da Revolução (...) Que cada um se dirija sua posição".
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que se baseia em uma rede de militantes, foram registrados violentos combates, ainda em andamento, principalmente nos bairros de Izaa e de Seif al-Dawla, dos quais participam "centenas de combatentes insurgentes".
Depois de terem registrado um avanço importante no final de julho, no início dos combates, os insurgentes se limitaram a defender suas posições diante do poderio de fogo das forças do governo.
Dia mais sangrento
O regime sírio, que bombardeia com frequência a cidade pelo ar, anunciou nesta terça-feira a tomada de Arkoub, um grande bairro do leste de Aleppo.
No restante do país, o Exército atacou vários redutos rebeldes nas províncias de Homs, Hama (centro), Idleb (noroeste), Latakia (noroeste) e Deir Ezzor (leste), de acordo com o OSDH.
Na principal região petrolífera da Síria, em Hassaka (noroeste), homens explodiram um oleoduto e sequestraram o diretor da estação.
A televisão estatal informou que as forças de segurança atacaram um "grupo terrorista" no bairro rebelde de Jobar, em Damasco, deixando "mortos e feridos".
Ao menos 59 pessoas --38 civis (entre eles cinco crianças), 16 soldados e cinco rebeldes-- morreram nesta quinta-feira em meio à violência em todo o país, segundo levantamento provisório do OSDH.
Na quarta-feira, cerca de 305 pessoas, entre elas 199 civis, foram mortas, o maior número de vítimas registrado em 18 meses, segundo o OSDH.
Um atentado duplo contra a sede do Estado-Maior registrado no centro de Damasco na quarta matou quatro guardas e foi reivindicado por um grupo jihadista, o braço de Damasco dos "Tajamo Ansar al-Islam.
Mais de 30.000 pessoas morreram neste conflito que assola a Síria há mais de 18 meses, segundo o OSDH, enquanto faltam materiais de primeira necessidade, gerando um panorama cada vez mais preocupante com a aproximação do inverno.
Para agravar o desastre humanitário, a ONU informou que o número de refugiados sírios pode superar 700.000 ao fim do ano, revisando em alta as necessidades, que chegam a 487,9 milhões de dólares, para poder ajudar os refugiados.
Segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur), mais de 500.000 sírios já fugiram, sendo que desse número 75% são mulheres e crianças.
"Paralisia" do Conselho de Segurança
Os ocidentais e muitos países árabes exigem a saída do presidente Assad, que quer esmagar "a qualquer preço" com os rebeldes comparados a "terroristas", enquanto os russos e chineses não aceitam uma interferência estrangeira nos problemas de seu aliado.
[SAIBAMAIS] A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, cujo país exige a partida de Assad, lamentou "a paralisia" do Conselho de Segurança "no momento em que as atrocidades aumentam", e pediu "imediatamente que se tente mais uma vez encontrar um meio de avançar" em um acordo.
Mas seu homólogo russo, Serguei Lavrov, respondeu passando novamente a responsabilidade do impasse para "os países que encorajam os opositores a recusar um cessar-fogo e o diálogo" com o regime, referindo-se aos ocidentais.
E o presidente russo, Vladimir Putin, foi mais longe, dizendo que o Ocidente tinha semeado o "caos" em muitos países, inclusive na Síria, apesar das advertências da Rússia, em declarações transmitidas pela televisão.
Mas, o bloqueio da Rússia a qualquer resolução do Conselho de Segurança da ONU é "apenas uma desculpa" para a comunidade internacional não ajudar os sírios a derrubar o presidente Assad, considerou o líder da Irmandade Muçulmana da Síria, Mohamed Riad al-Shakfa, cuja formação faz parte da coalizão de oposição síria.